Título: Ministério da Defesa, foco de crises
Autor: Oliveira, Eliane e Lima, Maria
Fonte: O Globo, 22/03/2007, O País, p. 8

Desde sua criação, no governo FH, pasta é dor de cabeça para os titulares

BRASÍLIA. Desde que foi criado, no início do segundo mandato do governo Fernando Henrique Cardoso, o Ministério da Defesa se transformou num foco de crises na relação com os militares e uma dor de cabeça constante na hora de se escolher o titular da pasta. Contrariando os comandantes das Forças Armadas, que perderam o status de ministro, o ministério nasceu enjeitado, pois foi empurrado goela abaixo dos militares. A crise no setor aéreo expôs as deficiências do sistema de proteção de vôos e a fragilidade do Ministério da Defesa na gestão do problema.

Depois do conturbado processo de criação, no final dos anos 1990, a primeira crise aconteceu com a indicação do ex-senador pefelista Élcio Álvares (ES), derrotado nas eleições, considerado à época pelos militares como inexpressivo e questionável do ponto de vista ético e moral. Caiu depois de um desgastante episódio de denúncias de corrupção e ligações com o crime organizado no Espírito Santo.

Militares consideram Waldir Pires inexperiente

Desde então, a situação só piorou. Com a crise aérea, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está numa encruzilhada para substituir o ministro Waldir Pires, seu amigo. Pires é visto pelos militares e pela oposição como uma pessoa completamente inexperiente para comandar uma área tão técnica.

Com a queda de Álvares, Fernando Henrique nomeou para o cargo o então advogado-geral da União, Geraldo Quintão. Ex-funcionário do Banco do Brasil, Quintão também era visto como um E.T. pelos militares. Porém, como tinha muito conhecimento jurídico e era extremamente cordial, segundo um general, "conseguiu errar numa boa e se fez aceitar melhor, sem grandes trombadas com os comandantes militares". Quintão ficou até o final do governo Fernando Henrique, no período de maior calmaria na Defesa.

Quando Lula assumiu, mais uma vez os comandantes militares ficaram à margem do processo de escolha do ministro. O então chefe da Casa Civil, José Dirceu, colaborou com a escolha do diplomata José Viegas, que servira na União Soviética e ajudou petistas exilados em Cuba. Foi o período mais conturbado. Viegas caiu em outubro de 2004, no auge do episódio da divulgação de fotos da morte do jornalista Wladimir Herzog. Houve sérias divergências entre o ministro e o comandante do Exército, general Francisco Albuquerque. Viegas foi substituído pelo vice-presidente José de Alencar.

José de Alencar era estranho ao setor, mas querido

O vice assumiu a contragosto e repetidas vezes declarou seu desejo de deixar o posto. Apesar de também ser estranho ao setor, era querido, pois levava a Lula os pleitos das três forças.

Em 31 de março do ano passado, com a saída de Alencar, - que se desincompatibilizou para disputar a reeleição - começou o período Waldir Pires. Com a queda do Boeing da Gol, em setembro do ano passado, e a crise dos controladores de vôos, sua situação se complicou muito. Há cinco meses, Waldir Pires vem sendo fritado e se equilibrando no cargo. Não tem o apoio dos militares, e Lula não sabe o que fazer para exonerar o amigo sem melindrá-lo.