Título: Salários agora têm maior peso na economia
Autor: Almeida, Cássia e Melo, Liana
Fonte: O Globo, 22/03/2007, Economia, p. 27

Tendência de queda na participação, no entanto, se mantém.

Os salários no Brasil ganharam uma representatividade maior na economia brasileira do que se acreditava até ontem, depois que o IBGE reformulou o cálculo do PIB, pela ótica da renda (trabalho, capital e governo). O peso dos salários era de 35,6% em 2003, último dado disponível com a metodologia antiga. Já em 2004, essa participação cresceu para 39,3%. Mesmo com o crescimento nessa parcela, ao se medir melhor o PIB, a tendência da participação em queda dos salários se mantém. Em 2000, representava 40,5%.

- É, sem dúvida, uma boa notícia, porém ainda é baixa essa participação dos salários quando se compara os padrões internacionais - diz o diretor do Instituto de Economia da UFRJ, João Saboia.

Ele chama a atenção também que, num curto espaço de tempo - entre 2000 e 2005 -, a participação teve queda de mais de um ponto percentual:

- Essa queda nos últimos anos era até esperada. O rendimento do trabalhador só começou a reagir em 2005. Até então, houve redução por anos seguidos. Ou seja, o cenário desfavorável permanece.

Enquanto isso, o excedente operacional (ou seja o capital que inclui lucro e também a parcela destinada a pagamento de juros e dividendos) viu sua participação cair com a nova metodologia. Em 2003, era de 43%, e baixou para 35,3% com as mudanças. Porém, na evolução temporal, a taxa cresceu: de 34% em 2000 para 35,3% em 2003.

Informalidade caiu pelas novas contas do IBGE

O dado da informalidade na produção da riqueza também fez parte da divulgação das novas Contas Nacionais. A parcela da produção de riqueza informal caiu de 11% para 8% de 2000 para 2003.

- Não podemos confundir trabalho informal com produção de riqueza. No primeiro item, temos realmente 40% da mão-de-obra trabalhando informalmente, mas na produção da riqueza são só 8% - explicou João Hallack Neto, economista do IBGE.

O IBGE usou conceitos da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que considera a unidade de produção, e não o trabalhador individual ou a ocupação por ele exercida, para medir a informalidade.

Nesse conceito, entram as unidades não agrícolas que produzem bens e serviços. As características básicas são produção em pequena escala, pouca organização e falta de separação do que é capital (renda da atividade produtiva) e do que é trabalho (o salário dentro da família).

- Se o trabalhador não tem carteira assinada, mas está numa empresa formal, a produção dele é formal também - explicou Hallack.