Título: Relação entre dívida e PIB melhora
Autor: Almeida, Cássia e Melo, Liana
Fonte: O Globo, 22/03/2007, Economia, p. 27

Superávit primário fica aquém da meta estabelecida pelo governo.

BRASÍLIA. A revisão do crescimento entre 2000 e 2005 mostrou que o esforço fiscal do Brasil foi insuficiente para atingir as metas de superávit primário (economia para pagamento de juros) em três dos quatro anos do primeiro governo Lula, quando a meta era de 4,25%. No entanto, isto não impediu que melhorassem, e muito, os indicadores da dívida líquida, o que pode proporcionar grau de investimento - recomendação mais alta das agências de risco - antes do esperado.

Com a expansão mais robusta, a relação entre dívida e PIB - o mais importante indicador macroeconômico, pois revela a capacidade de solvência do governo - recuou em 2005 de 51,49% para 46,5%, o que leva à estimativa de que em 2006 essa relação tenha fechado em 45,7% do PIB, bem aquém dos quase 50% aferidos até agora.

O patamar considerado ideal é abaixo de 30%, o que o Ministério da Fazenda espera que ocorra, com a revisão do PIB, antes de 2010. O ministro Guido Mantega disse esperar também que o déficit nominal zero seja alcançado até o fim do segundo mandato do presidente Lula.

Outro indicador que melhorou, caindo para abaixo de 3%, é o resultado nominal das contas públicas. Zerá-lo significa que o país está pagando suas contas com os recursos de que dispõe, sem se endividar.

- Acreditava que o Brasil não conseguiria chegar a investment grade neste mandato. Agora, acho que pode vir antes - avaliou José Luciano Costa, economista sênior do Unibanco Asset Management.

Mantega também aposta nessa previsão. Mas o caminho não será tão fácil. Para o mercado, o governo terá de continuar dando sinais de que está preocupado com a questão fiscal. O economista da consultoria Tendências Guilherme Loureiro compara a situação com a de outros países com grau de investimento. Alguns têm relação dívida bruta/PIB entre 20% e 30%. No Brasil, está em cerca de 70% e, com a revisão, poderia cair, no máximo, para 60%:

- O problema fiscal ainda é muito grande no Brasil.

A revisão tornou maior o desafio de atingir a meta de 4,25% de superávit primário. Pelos cálculos de Loureiro, o governo terá de fazer uma economia adicional de R$8,8 bilhões este ano para cumprir a meta - o compromisso original é economizar R$95,4 bilhões. Mantega deixou indicado que o governo não cumpriu a meta em 2006 - embora o PIB ainda não tenha sido divulgado - e não descartou a possibilidade de não atingi-la em 2007.