Título: 'Ambiente externo favoreceu Lula'
Autor: Almeida, Cássia e Melo, Liana
Fonte: O Globo, 22/03/2007, Economia, p. 27

Não é de hoje que o economista Claudio Considera vem acompanhando, pelas páginas da Internet, a metodologia usada para a revisão dos cálculos das contas nacionais. Seu interesse é justificado. Ele ocupou o cargo de chefe de Contas Nacionais do IBGE, entre 1986 e 1992.

Liana Melo

O senhor esperava que o PIB crescesse tanto?

CLAUDIO CONSIDERA: Já esperava um possível aumento do PIB sim e, como resultado disso, a redução de todos os indicadores que têm o PIB como denominador. O que me surpreendeu foi que a remuneração dos empregados na nova série aumentou substancialmente. Entretanto, essa participação durante o governo Lula caiu.

E o senhor já entendeu o que aconteceu?

CONSIDERA: A taxa de crescimento no período Lula cresceu mais pela nova série do que pela antiga. Nos anos 2004 e 2005, essa diferença foi substancial sobretudo porque a taxa do setor serviços, que ganhou participação no PIB, cresceu muito.

Pelos números divulgados, o senhor acha que o desempenho do governo Lula melhorou em relação ao de FH?

CONSIDERA: De jeito nenhum. Os indicadores macroeconômicos indicam que a queda na taxa de investimentos, associada à redução dos gastos com construção civil, é a prova da falta de confiança no governo. Não podemos esquecer do risco PT e também da crise política que comprometeram bastante essa taxa. Comparativamente ao governo FH, Lula não enfrentou uma crise externa, enquanto seu antecessor conviveu com cinco crises internacionais. Além disso, no período FH, a taxa de crescimento mundial foi bastante inferior à registrada no governo Lula. O ambiente externo foi mais favorável a Lula.