Título: PIB agora está 11% maior
Autor: Almeida, Cássia e Melo, Liana
Fonte: O Globo, 22/03/2007, Economia, p. 27

Com reformulação das contas pelo IBGE, economia do país somou R$2,1 tri em 2005.

OBrasil acordou ontem com a informação que a economia brasileira cresceu mais e está 10,9% maior - somando R$2,147 trilhões em 2005 -, que os investimentos para fazer o país crescer foram bem mais baixos e que o consumo das famílias representava mais dentro do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de riquezas geradas no país) do que as estatísticas até então mostravam. A causa dessa mudança tão grande é a reformulação das Contas Nacionais brasileiras, que vem sendo preparada há cinco anos. O IBGE, que ontem divulgou os novos números da economia de 1995 a 2005, passou a incorporar novas pesquisas de produção e consumo e adaptou o peso de vários segmentos, que ainda refletiam uma estrutura produtiva de 1985, data do último Censo Econômico feito pelo IBGE. O objetivo do instituto foi medir melhor a economia brasileira.

- Apesar das mudanças estruturais do cálculo das contas públicas nacionais, a tendência de crescimento da economia continua, o que muda é a magnitude dos números. O IBGE optou por escolher o ano de 2000 como base de referência, já que os dados anteriores a esse período eram insuficientes. O que podemos concluir com os números divulgados hoje (ontem) é que o país está se aproximando cada vez mais de uma economia madura - disse Eduardo Pereira Nunes, presidente do IBGE.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, classificou como "boa notícia" os números revisados do PIB divulgados ontem pelo IBGE e afirmou que, pela nova metodologia, a expansão da economia em 2006 pode chegar a até 3,5%, contra 2,9% da medição anterior. Segundo ele, a meta de expansão de 4,5% este ano agora ficou mais factível:

- Significa que a economia está crescendo a um ritmo mais acelerado, e alcançar um crescimento de 4,5% do PIB este ano se tornou mais fácil.

Segundo Armando Castelar, economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), os dados ficaram mais consistentes com a realidade e com outras pesquisas.

- Ficou mais claro o problema sério de poupança do país, com um governo altamente despoupador. Mostrou também a parcela maior do consumo das famílias, num comportamento mais coerente com outros países - disse.

O crescimento observado da riqueza brasileira também mudou. Em 2005, por exemplo, a taxa divulgada era de 2,3% e subiu para 2,9%. Em 2004, o avanço do PIB subiu de 4,9% para 5,7%. Para isso acontecer, vários setores viram suas taxas de expansão crescerem. Os serviços, que tinham variado 2% em 2005, subiram para 3,4% com a nova medição. Nos serviços de informação, que têm as telecomunicações como a atividade mais representativa, a estagnação observada antes virou uma alta de 4,3%, refletindo o avanço que esse setor vem ganhando na sociedade brasileira, com mais linhas fixas e de celulares, que já ultrapassaram cem milhões nas mãos dos brasileiros.

A intermediação financeira, que antes repetia o desempenho médio da economia, explodiu. O avanço captado anteriormente era de 2,4% em 2005. Com os novos números, o crescimento triplicou, passando para 6,5%.

Poupança caiu de 22,8% para 17,6%

Na ótica do consumo, as famílias também melhoraram o desempenho. A expansão passou de 3,1% em 2005 para 7,1%. Assim, na repartição da riqueza, as famílias passaram a abocanhar 60,4% em 2005, parcela superior aos 55,5% divulgados de acordo com as contas antigas.

Com o consumo maior, a poupança dos brasileiros caiu com a revisão. Enquanto se imaginava que se poupava 22,8% da riqueza produzida, na verdade somente 17,6% eram economizados. E governo permaneceu como antes: altamente despoupador, como observou Castelar, só que com mais apetite. Em 2003, por exemplo, as contas mostravam que o negativo na poupança do governo chegava a R$36 bilhões. O valor subiu para R$59,9 bilhões.

Outro fator a mudar com a revisão da contabilidade foram os pesos dos setores. Os serviços respondem agora por 64% de toda a produção, contra 54,1% na medição anterior.

- As contas foram melhoradas e ampliadas. Ajustes fundamentais foram feitos nos indicadores de administração pública e de instituição financeira, que pesam 20% de toda a economia. Anteriormente, isso era feito por estimativa - disse Roberto Olinto, coordenador de Contas Nacionais do IBGE.

A indústria e a agropecuária desabaram. A primeira respondia por 36,1% do PIB e passou para 27,7%.