Título: Mostrando força
Autor: Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 23/03/2007, O Globo, p. 2

A base do governo na Câmara deu uma demonstração de força ao derrotar, no plenário, o recurso da oposição contra a decisão da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), que arquivou a criação da CPI do Apagão Aéreo. A questão não está encerrada porque a palavra final será do Supremo Tribunal Federal. O tamanho da derrota fez a oposição decidir abandonar a obstrução.

Os líderes do PFL, Onyx Lorenzoni (RS), do PSDB, Antonio Carlos Pannunzio (SP), do PPS, Fernando Coruja (SC), e da Minoria, Júlio Redecker (PSDB-RS), reuniram-se ontem e concluíram que o apoio de apenas 141 deputados, menos que o terço exigido para criar CPIs (171 deputados), tornou insustentável a continuidade da obstrução. Para a oposição, resta confiar na decisão do STF e tentar criar uma CPI no Senado.

- Sofremos uma dura derrota no plenário - afirma Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA).

O resultado da votação revelou que, dificilmente, a oposição conseguirá levantar 171 assinaturas novamente para criar uma CPI para investigar o caos no sistema aéreo nacional. Mesmo que a CPI do Apagão Aéreo tenha de funcionar por decisão judicial, a base do governo mostrou coesão no processo. Votaram pelo arquivamento da CPI 301 deputados governistas, enquanto apenas 29 votaram com a oposição. Os líderes aliados acreditam que a oposição vai ter de mudar de tática e que a vitória no plenário abre as portas para uma rápida aprovação das medidas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

- O comportamento da base do governo teve um impacto positivo. Por isso, não acredito que a oposição esteja disposta a pagar o ônus de obstruir as votações do PAC. Se fizer isso, estará dando um tiro no próprio pé - diz o líder do PT, Luiz Sérgio (RJ).

Para integrantes da oposição, a eleição de Arlindo Chinaglia (PT-SP) foi um momento de afirmação do PT e a votação que inviabilizou a CPI foi um momento de afirmação da lealdade do PMDB e da base aliada. A coesão da base está inibindo outras manobras protelatórias da oposição.

- Nós vamos aprovar o PAC rapidinho. Não vamos ficar com o ônus, na sociedade, de ser contra um plano de crescimento. Nossa avaliação é a de que o PAC não agrega uma mudança econômica substantiva e enfrentará problemas de gestão - diz o deputado Arnaldo Jardim (PPS-SP).

O presidente Lula e o jornalista Franklin Martins conversaram ontem à noite. O jornalista aceitou convite para ser ministro da Secretaria de Comunicação de Governo. Ele será responsável pelas áreas de imprensa e divulgação, publicidade e pela criação da TV estatal pública.

O ministro tinha de ser do Paraná

Poucas vezes tantas forças políticas se movimentaram para fazer um ministro de um estado e de um partido como agora no Ministério da Agricultura. Estavam todos do mesmo lado: o presidente Lula, o governador Roberto Requião (PR), o governador Blairo Maggi (PR-MT), a direção nacional do PMDB e a direção do PT no Paraná.

Primeiro eles tentaram fazer o produtor rural Odílio Balbinotti (PMDB-PR). Não deu. Depois se fixaram no deputado Reinhold Stephanes (PMDB-PR). Os ruralistas não gostaram e apresentaram um nome do setor, também do PMDB e do Paraná, o deputado Moacir Micheletto.

Por trás deste esforço coletivo e pluripartidário está a vontade de agradar ao empreiteiro Cecílio do Rego Almeida, dono da CR Almeida. Ocorre que a escolha para o ministério de um deputado do PMDB e do Paraná abre espaço para a posse do suplente Marcelo de Almeida, filho de Cecílio. O PMDB já tinha tentado fazê-lo assumir quando lançou Osmar Serraglio (PMDB-PR) candidato para o Tribunal de Contas da União.

Mais dinheiro

A revisão do PIB feita pelo IBGE, tão comemorada pelo governo Lula, pode virar uma dor de cabeça. O coordenador da Frente Parlamentar da Saúde, deputado Rafael Guerra (PSDB-MG), já está articulando ações para cobrar do governo o repasse, para o Ministério da Saúde, da diferença entre o PIB anterior e o novo. O Conselho Nacional da Saúde calcula que, desde 2000, essa diferença representa R$9 bilhões.

O MINISTRO das Comunicações, Hélio Costa, está indicando um de seus assessores, Joadilson Ferreira Barbosa, para a vice-presidência de Tecnologia do Banco do Brasil.

O PT catarinense está indicando três nomes para a presidência da Eletrosul: o ex-presidente Milton Mendes e os ex-deputados Jorge Boeira e Mauro Passos. Os três foram derrotados nas últimas eleições.

O LÍDER do PSB, Márcio França (SP), explica o voto do deputado Ciro Gomes (PSB-CE) a favor da criação da CPI do Apagão Aéreo: "Acho que ele votou errado. Na Comissão de Constituição e Justiça ele tinha votado pelo arquivamento da CPI".

Juntando os cacos

Os governistas e os neogovernistas do PMDB estão se reaproximando. A líder do governo no Congresso, senadora Roseana Sarney (PMDB-MA), propôs e os presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e do PMDB, Michel Temer (SP), concordaram. Na próxima semana, Renan fará um jantar, em sua casa, para reunir deputados e senadores do partido. Renan repetiu ontem que a disputa no PMDB é página virada.

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