Título: Atacado por ruralistas do Congresso, Stephanes promete 'diálogo civilizado'
Autor: Gois, Chico de e Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 23/03/2007, O País, p. 4

MUDANÇA NO TIME: Novo ministro de Lula foi ministro também de Collor e FH.

Peemedebista é confirmado na pasta da Agricultura e toma posse hoje.

BRASÍLIA, SÃO PAULO e CURITIBA. O deputado Reinhold Stephanes (PMDB-PR) toma posse hoje, às 10h, como ministro da Agricultura. Ele foi formalmente convidado ontem, em audiência com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto, acompanhado do presidente do partido, Michel Temer, e do líder na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN). Alvo do ataque e do lobby dos representantes do agronegócio no Congresso, que preferiam outro nome, o novo ministro diz que vai abrir um canal de diálogo civilizado com os ruralistas. Prometeu se aliar aos agricultores na negociação da redução dos juros.

Além de Stephanes, tomam posse hoje no Planalto a ministra do Turismo, Marta Suplicy, e o de Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia.

Stephanes substitui a indicação de Odílio Balbinotti (PR), que desistiu depois de tornado público o inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) em que ele é acusado de utilizar laranjas para renegociar dívidas.

"Fui citado pelo simples fato de que eu era o presidente"

Stephanes, ministro da Previdência nos governos Collor e Fernando Henrique, responde a processo por improbidade administrativa da época em que era presidente do Banestado, no governo de Jaime Lerner, no Paraná. É exigida a devolução de R$2,2 milhões aos cofres públicos. O valor foi pago a uma agência de publicidade de Cascavel que publicava anúncios do Banestado no jornal "Gazeta do Paraná". O deputado é réu juntamente com os diretores do jornal. A decisão agora está com a juíza Fabiane Pieruccini, que deve examinar o processo a partir da próxima semana.

- Ocupei a presidência num período em que tínhamos, de forma permanente, 12 auditores do Banco Central, e meu vice era um funcionário indicado pelo BC. Fui citado pelo simples fato de que eu era o presidente - disse Stephanes ontem.

No ministério, Stephanes afirma que seu grande desafio será a defesa sanitária animal.

- Minha intenção é provar que tenho capacidade de grande diálogo. Sou muito profissional e sério em tudo que faço.

Stephanes diz ainda que uma preocupação é conciliar a agricultura e a pecuária com o meio ambiente. Especialmente em relação à expansão da cana para produção de etanol.

- Vamos dar atenção também às pequenas e médias propriedades rurais, administrar os conflitos entre a área agrícola e a econômica e trabalhar o fim dos embargos e subsídios aos produtos brasileiros.

A escolha de Stephanes foi bem recebida, mas acendeu uma luz amarela na Sociedade Rural Brasileira. Seu presidente, Cesário Ramalho, disse que o setor se preocupa com a formação da equipe, e alertou para a necessidade de abrir espaço na pasta para pessoas com experiência em agronegócio.

- Vimos positivamente essa nomeação, mas precisamos de técnicos experientes para levar adiante os projetos do setor - disse Ramalho, de Montevidéu, onde participava ontem de uma feira, mostrando alívio com o fato de Balbinotti não ter sido nomeado:

- É alguém completamente despreparado. Aquilo (a possível nomeação) nos traumatizou. Ele se revelou incompetente, transitou por vários partidos e responde a processos no STF em que é acusado de falsidade ideológica. É tudo de que o setor não precisa.

A direção da entidade marcará encontro, em Brasília, para pôr à disposição do ministro alguns de seus quadros.

- A agricultura é responsável por 30% do PIB, 36% dos empregos no país e gera 93% do saldo da balança comercial - disse o ruralista.

A preocupação da SRB é compartilhada pelo presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores Agricultura (Contag), Manoel José dos Santos.

- Essa é uma área que depende de bons gestores, de pessoas que tenham uma idéia macro. Não dá para fazer loteamento político.

COLABOROU Ana Paula de Carvalho, especial para O GLOBO