Título: Presa quadrilha de tráfico e lavagem de dinheiro
Autor: Werneck, Antônio
Fonte: O Globo, 23/03/2007, O País, p. 10

Dinheiro do comércio internacional de drogas era usado para comprar, segundo a polícia, postos de gasolina e outros bens

Em uma das maiores operações de combate à lavagem de dinheiro obtido com a venda de cocaína dos últimos anos, a Polícia Federal prendeu ontem 11 pessoas em cinco estados, e apreendeu cerca de R$20 milhões em imóveis no Rio. Os policiais confiscaram também empresas petroquímicas, postos de gasolina, carros importados, e bloquearam 92 contas bancárias administradas pelo traficante colombiano Alexander Pareja Garcia, o Alex, chefe do Cartel do Vale do Norte, na Colômbia.

Apontado pela PF como um dos sucessores do colombiano Pablo Escobar, que chefiou o extinto Cartel de Medellín até ser assassinado em 1994, Pareja vivia há cinco anos como um bem-sucedido empresário do ramo de petróleo numa confortável casa no condomínio Malibu, de classe média alta, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio.

Principal alvo da operação, batizada de Platina, Pareja já estava preso desde setembro do ano passado em Brasília, aguardando julgamento de pedido de extradição do governo uruguaio, que também o acusa de tráfico de drogas. A PF revelou que, mesmo preso, Pareja continuava a gerenciar seus negócios. Uma das pessoas usadas para manter a quadrilha sob controle era a mulher dele, a colombiana Iasmin Rodriguez Galego, presa em Brasília, quando chegava para visitar o marido.

Quadrilha movimentou R$40 milhões em uma semana

O delegado federal Júlio César Bortolato disse que a quadrilha enviava semanalmente de 500 a mil quilos de cocaína para a Europa e os Estados Unidos, e em uma só semana de 2006 movimentou no país R$40 milhões, comprando imóveis, carros e postos de gasolina.

- Pareja comprou dezenas de imóveis de alto padrão no Rio, oito postos de gasolina (seis na Região Metropolitana do Rio e dois no interior do estado) e adquiriu empresas na área de comercialização de derivados de petróleo em São Paulo, com filiais em três outros estados - afirmou Bortolato.

Uma das prisões foi a do doleiro Manoel Camilo Rodrigues Fales, considerado pela PF o homem forte de Pareja no Brasil. Fales foi preso por volta das 6h, em seu apartamento no condomínio Mandala, na Barra da Tijuca. Na última semana, o doleiro, conhecido por trabalhar para empresários brasileiros e ídolos futebol do Rio, foi seguido por um grupo de agentes federais de Brasília. Na véspera da prisão, foi filmado bebendo com amigos na Barra e depois passou a noite com prostitutas.

No estacionamento do condomínio, a PF apreendeu seis carros blindados importados, que seriam de Fales. No apartamento, foram apreendidos uma coleção de relógios (muitos deles Rolex) e um conjunto de jóias valiosas. A delegada Isabelle Vasconcellos, que comandou as buscas no Mandala, informou que foram apreendidos dois laptops com a contabilidade do doleiro, documentos e HD de computadores. Fales saiu do prédio algemado, com a cabeça coberta por um paletó, e nem ele nem seu advogado quiseram falar ao GLOBO sobre as acusações.

O delegado federal Vitor César Santos, que coordenou as operações no Rio, informou que a quadrilha usava o Uruguai como rota do tráfico internacional. A cocaína saía da Colômbia de avião para a capital uruguaia e, de lá, em navios, era enviada para a Europa - tendo como porta de entrada a Espanha - e os Estados Unidos. O dinheiro dessas operações voltava ao Uruguai em vôos comerciais, e, em muitos casos, era transportado em malas pelos comandantes dos vôos. Ano passado, a PF uruguaia, com informações repassadas pelos agentes brasileiros, prendeu 24 pessoas (entre elas dois pilotos) e apreendeu 330 quilos de cocaína.

O delegado Bortolato afirmou que, em território uruguaio, o dinheiro seguia para o Brasil em transferências legais, autorizadas pelo Banco Central. Para burlar a fiscalização, a quadrilha informava que os recursos seriam aplicados em negócios na indústria petroquímica. Cerca de 250 policiais federais participaram da operação, cumprindo 40 mandados de busca e apreensão no Rio, São Paulo, Mato Grosso e Rio Grande do Sul.

A PF começou a investigação em 2005, depois que autoridades da Inglaterra prenderam o grego Angelis Vougaris Angelopoulous com 120 mil euros. Os ingleses identificaram a atuação de Angelis na quadrilha de Pareja. De posse das informações, a PF descobriu que o colombiano tinha no território brasileiro uma série de investimentos em imóveis de alto padrão, além de empresas na área de comercialização de derivados de petróleo (distribuidoras e postos de combustíveis). Todos esses negócios eram financiados com dinheiro obtido no narcotráfico.

No Rio, a PF lacrou, com a Agência Nacional de Petróleo (ANP), oito postos de gasolina e apreendeu cerca de 15 carros blindados importados. Em São Paulo, fechou a matriz da indústria petroquímica Delft Oil Energy Derivados de Petróleo e suas filiais - no interior paulista, em Rondonópolis (MT) e Porto Alegre. Os policiais prenderam, em Ribeirão Pires, em São Paulo, Paulo Rui Delfin Ferreira Vasco, português naturalizado brasileiro, na sede da empresa Delft. Foram apreendidos documentos, computadores e dois veículos. Rui é sócio-gerente da empresa Delft e suspeito de ser testa-de-ferro do colombiano. A PF também fechou a distribuidora de petróleo Petrosol, em Itaquaquecetuba (SP).