Título: Mantega procura vaga para Fiocca
Autor: Santos, Ana Cecília
Fonte: O Globo, 23/03/2007, Economia, p. 26

Titular do BNDES deixará instituição e influenciará reforma na Fazenda.

BRASÍLIA. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem pela frente um desafio que impôs a si mesmo: acomodar o economista Demian Fiocca em um posto de comando no Ministério da Fazenda. Amigo de Mantega - que o indicou para a presidência do BNDES -, Fiocca deve deixar o cargo em breve, com a indicação de Miguel Jorge para o Ministério do Desenvolvimento. Mas seu futuro profissional, que influenciará a "reforma" da equipe da Fazenda, não está claro.

Com Miguel Jorge no Desenvolvimento, o BNDES será ocupado por um indicado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e um dos nomes cotados é o do economista Luciano Coutinho. Ele é conselheiro do Palácio do Planalto e tem reuniões periódicas com a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, o ministro da Justiça, Tarso Genro, e o próprio Mantega.

O ministro da Fazenda gostaria de colocar Fiocca na Secretaria do Tesouro Nacional ou na secretária-executiva da pasta, mas fatores externos estariam dificultando uma tomada de decisão. A secretaria-executiva, o segundo posto na hierarquia da Fazenda, é hoje comandada pelo economista Bernard Appy, que diverge de Mantega em vários aspectos na condução da política econômica, além de ser considerado uma herança de Antonio Palocci.

Jorge Rachid deve deixar a Receita Federal

Appy, porém, é um quadro histórico do PT e desfruta de grande prestígio no Planalto. Considerado de extrema competência, comanda toda a estrutura do Ministério da Fazenda e coordena projetos estratégicos para o governo, como a reforma tributária.

A opção para acomodar Fiocca seria, então, o Tesouro, depois que o economista Carlos Kawall deixou o cargo em dezembro. Só que a solução caseira encontrada por Mantega para substituir Kawall interinamente, o funcionário de carreira Tarcísio Godoy, agradou ao mercado financeiro. Agora se discute se valeria a pena arriscar mais uma mudança, sem a garantia de que Fiocca seria bem recebido.

O ministro também tentou emplacar Fiocca numa diretoria do Banco Central, mas a idéia enfrenta resistência do presidente da instituição, Henrique Meirelles. Na primeira semana de março, quando Afonso Bevilacqua deixou a diretoria de Política Econômica do BC, Fiocca esteve com Mantega e Lula. Em seguida, voltou para o BNDES e mandou cancelar toda sua agenda a partir do dia 9. Mas a decisão sobre seu novo destino acabou sendo protelada.

Outra mudança esperada no Ministério da Fazenda é no comando da Receita Federal do Brasil - ou seja, assumir a poderosa e recém-criada Super Receita. O secretário Jorge Rachid deve deixar o cargo em breve. Ele também é remanescente da equipe de Palocci, mas tem bom trânsito com Mantega. Ainda assim, estaria cansado e disposto a se afastar.

Nesse caso, duas alternativas estão em discussão nos bastidores do governo. Mantega gostaria de levar para a Super Receita o atual ministro da Previdência, Nelson Machado, que vai deixar o cargo, porque a pasta foi oferecida ao PDT, dentro da aliança política montada para o segundo mandato.

Mas, se a resistência da corporação for muito grande a um nome de fora, estuda-se também a possibilidade de nomear o atual chefe da fiscalização, Paulo Ricardo Cardoso, para a vaga de supersecretário.

Na Secretaria de Política Econômica (SPE), comandada pelo economista Júlio Sérgio Gomes de Almeida, Mantega não deve fazer mudanças. A idéia é que a secretaria seja reforçada com 25 técnicos e trabalhe mais próxima da Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae), que passou a ser comandada por Nelson Barbosa, adjunto de Almeida na SPE.