Título: Risco-Brasil recua 2,2% e atinge o menor patamar de sua história
Autor: Santos, Ana Cecília
Fonte: O Globo, 23/03/2007, Economia, p. 26

ESPETÁCULO DA REVISÃO: Dólar chegou a valer R$2,050 e fechou a R$2,061.

Analistas divergem se novo PIB ajuda o país a obter grau de investimento.

RIO e BRASÍLIA. O risco-Brasil, termômetro da confiança dos investidores estrangeiros no país, recuou ontem ao menor nível desde que começou a ser calculado pelo banco americano JP Morgan, em 1994. O indicador caiu 2,23%, para 175 pontos centesimais. Durante o dia, chegou a marcar 174 pontos. O recorde anterior havia sido registrado no dia 22 de fevereiro (176 pontos). Para alguns analistas, os novos números da relação entre a dívida líquida do setor público e o Produto Interno Bruto (PIB) aproxima o país de ser investment grade (grau de investimento). Hoje o Brasil está a dois graus de atingir esse nível.

A melhora na percepção da economia brasileira atraiu a entrada de capital externo. Com isso, o dólar, que chegou a ser negociado ontem a R$2,050, acabou fechando praticamente estável, a R$2,061, ainda próximo do menor valor desde maio de 2006. Já a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), após três altas consecutivas, fechou em queda de 0,45%.

BC não consegue conter queda do dólar

O Banco Central (BC) voltou a atuar ontem nos mercados futuro e à vista. A autoridade monetária fez um leilão de swap cambial reverso, que, na prática, funciona como uma compra de dólar no mercado futuro. Ao todo, houve US$1,3 milhão em contratos para rolar (renovar) swaps que vencem no dia 2 de abril. O entendimento do mercado é de que a valorização do real é hoje inevitável com o atual ritmo de queda dos juros definido pelo governo.

O economista Emanuel Pereira da Silva, sócio da GAP Asset Management, acredita que, se o governo cortasse mais os juros, isso ajudaria a equilibrar o câmbio:

- Além disso, o custo de manter as reservas no nível em que estão é alto.

Ele concorda que o país nunca esteve tão próximo de atingir o investment grade, mas diz que ainda é preciso um longo trabalho de reformas estruturais:

- O problema da previdência hoje é insolúvel. O perfil da dívida pública também melhorou, mas ainda é de curto prazo. A ausência de reformas estruturais abala a confiança do investidor.

Para Daniella Marques, analista de renda variável da Mercatto, a melhora nos indicadores de solvência aproxima, sim, o país de atingir o grau de investimento:

- A revisão na relação entre dívida e PIB pode antecipar uma revisão positiva da classificação de risco do Brasil pelas agências internacionais.

Já a Standard & Poor"s, referência entre as agências de classificação de risco, jogou ontem um balde de água fria na expectativa do governo e de analistas de que os novos números da relação entre a dívida e o PIB antecipem a concessão da nota de grau de investimento ao Brasil. A diretora da área de Rating Soberano da S&P, Helena Hessel, reconhece que os fundamentos econômicos do país estão mais sólidos. Mas ela afirma que ainda há muito o que fazer, sobretudo nas áreas fiscal e de reformas estruturais.

- Acho que houve uma reação exagerada (com os novos números do IBGE). Chegar a investment grade dependerá muito do governo - disse a diretora, que trabalha no escritório de Nova York da agência de classificação de risco.

Hoje, pela Standard & Poor"s, a dívida em moeda estrangeira do Brasil tem classificação BB. Para chegar à recomendação de investimento (BBB-), ainda restam dois degraus. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, chegou a afirmar que o Brasil poderia alcançar mais rapidamente esse nível com o PIB revisado.

Helena explica que a relação dívida/PIB - indicador mais importante analisado, por refletir a capacidade de solvência do país - encerrou 2005 em 47,4% nos cálculos da agência (que usa metodologia diferente de sistematização de dados), já levando em consideração o novo PIB brasileiro. O número é maior do que os 46,5% estimados pelo governo. - O que estamos esperando são as reformas estruturais. Isso é importante - afirmou.