Título: Caos aéreo: governo cria novo grupo de trabalho
Autor: Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 23/03/2007, Economia, p. 29

Presidente Lula reclama de desarticulação de órgãos do setor, e gestões serão avaliadas.

BRASÍLIA. Depois de quatro dias de atrasos de vôos, decorrentes de falhas humanas na operação do sistema da Aeronáutica, o governo reagiu à ampliação da crise aérea com mais um grupo de trabalho. O anúncio foi feito pelo ministro da Defesa, Waldir Pires, depois de se reunir com autoridades ligadas à aviação por cerca de três horas. Por determinação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva - que voltou a reclamar da desarticulação de órgãos do setor - a nova instância vai avaliar semanalmente a gestão de cada área e traçar prioridades para evitar que os problemas continuem ocorrendo.

Em novembro de 2006, outro grupo de trabalho havia sido criado em caráter emergencial, com a participação de governo, empresas e trabalhadores.

- Queremos êxito na gestão e não podemos permitir que os problemas continuem. Essa é uma obsessão do presidente. Temos de vencer esse desafio com uma ação única - disse Pires.

Para ele, a causa dos problemas está na infra-estrutura e nos equipamentos. Durante o encontro - do qual participaram representantes de Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Infraero e Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea) - cada órgão apresentou sua linha de ação.

Presidente da Infraero descarta Lei de Murphy

A Infraero se comprometeu a acelerar a obra no Santos Dumont e a reforma da pista principal de Congonhas (SP). Nesse caso, tudo indica que a obra será feita em caráter emergencial - com a participação de pelo menos três empresas no processo de seleção. A prioridade da Anac será buscar um entendimento com as empresas, que terão de deslocar vôos para Cumbica (Guarulhos) e Viracopos (Campinas) por causa do fechamento da pista de Congonhas. A via auxiliar tem restrições para Fokker 100 e Boeings 737-700 e 800.

Já a Aeronáutica ficou de identificar pontos de reação entre os controladores, que estariam fazendo operações-padrão para melhorar condições de trabalho e salários. A avaliação da Força Aérea (FAB) é que houve uma mudança no comportamento dos controladores militares após o acidente com a Gol no ano passado. Antes, havia "espírito de corpo" (cooperação), diz uma fonte, e os graduados se desdobravam para vencer dificuldades decorrentes de máquinas antigas e falta de pessoal. Chegavam a controlar 18 aeronaves simultaneamente, mas agora se recusam a ultrapassar o limite de 14, teria dito um oficial de alta patente.

As autoridades, porém, evitam o termo sabotagem para explicar as panes nos computadores Cindacta 1 (Brasília) e 2 (Curitiba). Segundo relatório enviado à Presidência, há três hipóteses para o problema de Brasília: comando errado, mensagem de erro ou fio desconectado propositalmente do equipamento. Para fontes ligadas à FAB, o problema foi a demora de quatro horas para resolver a pane. E, quando o problema ocorreu, não havia técnico especializado no Centro.

Depois do encontro, o presidente da Infraero, brigadeiro José Carlos Pereira, disse que a seqüência de falhas é um problema sério. Para ele, o que está havendo é uma junção de azar e problemas de gestão.

- Não acredito em Lei de Murphy - disse, sobre a declaração do ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia.