Título: O fantasma da CPI
Autor: Franbco, Ilimar
Fonte: O Globo, 24/03/2007, O Globo, p. 2

Os líderes governistas e da oposição continuam com a cabeça no escândalo do mensalão. A oposição imagina que poderá reeditar um ambiente de crise ética, investigando as obras nos aeroportos. Os governistas acreditam que serão vítimas de uma nova CPI do Fim do Mundo, na qual as mortes no acidente da Gol e o caos no sistema aéreo nacional seriam apenas a ponta de um novelo.

O novo Congresso começou a trabalhar há 30 dias e a criação da CPI do Apagão Aéreo virou o centro da disputa política. Os partidos elegeram a CPI como a principal questão política a ser enfrentada. Os líderes estão deixando de lado temas socialmente mais abrangentes, como os da segurança e do crescimento econômico. Os parlamentares mais experientes dizem que esse tipo de conduta contribui para afastar eleitos e eleitores.

Governistas e aliados agem como se disputassem um terceiro turno das eleições. Os dois lados se recusam a fazer um acordo. A população, principalmente sua parcela que viaja de avião, sairia ganhando se fosse feito um acordo que permitisse investigar os fatos que levaram ao caos no sistema aéreo nacional e apontasse soluções para superá-lo. Dar uma satisfação aos usuários do sistema aéreo deveria ser mais importante do que a luta política.

- Esta não é uma questão de governo. Os fatos que serão investigados não são de responsabilidade do presidente e a oposição não poderá usá-los contra seu mandato - resumiu o líder do PDT, deputado Miro Teixeira (RJ), numa de suas várias intervenções nos debates em plenário.

Mas esse debate não é o único exemplo do alienação que muitas vezes toma conta do debate político-parlamentar. Na campanha eleitoral, como conseqüência da crise política, todos os partidos passaram a defender a reforma da legislação partidária e eleitoral. Mas ainda não existe, na Câmara ou no Senado, qualquer esforço conseqüente para viabilizar a aprovação de uma reforma política que iniba a corrupção e dê maior representatividade aos partidos. Ao invés disso, quando arrefece a batalha política da CPI, os parlamentares se voltam para si mesmos e começam a debater publicamente o reajuste de seus salários.

Essas ações e omissões já começaram a desgastar a nova legislatura. Se o STF determinar a instalação da CPI do Apagão Aéreo, a Câmara sofrerá um novo arranhão em sua imagem.