Título: Ação foi articulada há um mês por delegados
Autor: Oliveira, Germano e Freire, Flávio
Fonte: O Globo, 24/03/2007, O País, p. 8

Proposta foi formulada pelo comando do Espírito Santo e coordenada pelo Conselho Nacional de Chefes da Polícia Civil.

Legenda da foto: MÁRIO JORDÃO: o delegado-geral da polícia paulista foi eleito para a presidência do Conselho em fevereiro.

SÃO PAULO. A operação simultânea da Polícia Civil em todo o país começou a ser articulada há um mês, durante reunião em São Paulo, de 23 dos 27 delegados-gerais do país. A proposta foi formulada pelo comando da polícia do Espírito Santo, que enviou o planejamento de ações conjuntas em todos os estados ao presidente do Conselho Nacional de Chefes da Polícia Civil, Mário Jordão Toledo Leme, que é também delegado-geral de polícia em São Paulo. A operação começou a ser realizada com algumas ações pontuais na segunda-feira desta semana, mas o dia D foi ontem, com a concentração das operações e a intensificação das prisões num único dia.

Após consulta às polícias dos 26 estados e do Distrito Federal, os delegados definiram o plano de ação e apenas anteontem comunicaram aos governadores e ao governo federal a operação nacional feita ontem. Através da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), órgão do Ministério da Justiça, o governo federal foi avisado, por escrito, também anteontem.

Eleito em fevereiro para a presidência do conselho, Mário Jordão, há 18 anos na Polícia Civil paulista, articulou o operação sem interferência dos governadores. O governador José Serra (PSDB) foi comunicado sobre a ação apenas ontem, embora no fim de fevereiro ele tenha se reunido com todos os delegados gerais do país, num almoço no Palácio dos Bandeirantes, como parte de um encontro dos delegados gerais que durou dois dias, em São Paulo, naquele mês.

O sigilo sobre a operação serviu para evitar o vazamento de informações, o que poderia prejudicar as prisões.

Resposta à acusação de que Polícia Civil é inoperante

Segundo a assessoria de imprensa do Ministério da Justiça, o Conselho Nacional de Polícias Civis não avisou à Senasp sobre o plano de executar prisões em massa. Procurado pelo GLOBO, Luiz Fernando Corrêa, da Senasp, não quis se manifestar sobre a ação das polícias civis.

A operação seria uma resposta da Polícia Civil às acusações de que se trata de um organismo inoperante dentro do sistema de segurança pública. Nas últimas semanas, o governador paulista tem conversado periodicamente com os governadores do Rio, Sérgio Cabral (PMDB); de Minas, Aécio Neves (PSDB), e do Espírito Santo, Paulo Hartung (PMDB).

Serra teria recebido, ao longo de todo o dia ontem, informações sobre a operação. Desde que assumiu, em conversas com pessoas ligadas ao Palácio do Planalto, Serra tem dito que uma das prioridades de seu governo é combater o crime organizado. No encontro que teve com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, semanas atrás, o tucano teria reivindicado aumento no repasse de verbas do Fundo Nacional de Segurança Pública. Para 2007, o governo federal destinou ao setor R$600 milhões.

Antes de ser nomeado delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Mário Jordão foi delegado nas cidades de Diadema (uma as mais violentas de São Paulo), São Bernardo do Campo e delegado titular da Delegacia Seccional da Capital de São Paulo. Foi também secretário-adjunto da Secretaria de Administração Penitenciária de São Paulo de 1999 a 2000. Antes de entrar para a polícia, foi funcionário do BankBoston, quando o banco era presidido por Henrique Meirelles, atual presidente do Banco Central.

Como presidente do Conselho Nacional dos Chefes da Polícia Civil, Mário Jordão tem assento na Senasp e ajudará a formular a política de segurança pública do país. O conselho tem um representante de cada estado e do Distrito Federal.