Título: Ex-porta-vozes vêem com ressalvas novo formato
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Fonte: O Globo, 24/03/2007, O País, p. 17

Acho complicado misturar informação com publicidade", diz Fernando César Mesquita

BRASÍLIA. Pelo menos dois ex-porta-vozes da Presidência da República criticaram a fórmula usada pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva de juntar, numa mesma pasta, as áreas de informação/notícias e publicidade. O jornalista Fernando César Mesquita , que no governo José Sarney foi o titular da Secretaria de Imprensa e Divulgação, disse considerar complicado deixar nas mãos de uma mesma pessoa o contato direto com a imprensa e o controle das verbas de publicidade do governo. Tanto que uma das primeiras providências que tomou ao assumir o cargo foi justamente promover essa separação, já que sua secretaria acumulava as duas funções.

A estrutura herdada do governo João Figueiredo foi totalmente modificada por determinação de Mesquita, que convidou o também jornalista Luiz Guttemberg para cuidar da publicidade oficial.

- Não quis ficar com a parte de publicidade. Acho complicado misturar informação com publicidade. Claro que isso depende muito de cada pessoa, mas é preciso cuidado na administração dos recursos de publicidade. Conciliar isso com o cargo de porta-voz e secretário de imprensa pode ser difícil - disse Mesquita.

Para o ex-secretário de imprensa do ex-presidente Sarney, porém, a separação do posto de porta-voz do cargo de secretário de imprensa, modelo adotado tanto pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso como pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante seu primeiro mandato, não é o modelo mais eficiente.

- Sem qualquer preconceito, sempre achei que o porta-voz e o secretário de imprensa tinham de ser a mesma pessoa - acrescentou.

Subchefe da Casa Civil no governo Sarney de 1988 a 1990, o jornalista Carlos Henrique Almeida Santos disse que, no período, os responsáveis tanto por publicidade como por imprensa estavam sob seu comando. Quando estava no Palácio do Planalto, Carlos Henrique era formalmente vinculado à Casa Civil, mas diz que tinha ligação direta com o então presidente José Sarney. O jornalista tinha dois subordinados para lidar com as duas áreas: uma pessoa para tratar dos assuntos de imprensa, na época, o jornalista Ricardo Pedreira, e outra para cuidar da publicidade, Luiz Crisóstomo.

Ex-porta-voz do governo Fernando Collor de Mello, o jornalista Cláudio Humberto Rosa e Silva disse que, quando assumiu o posto, existia a Secretaria de Imprensa e Divulgação, sendo que a Divulgação cuidava da parte de publicidade, embora na prática o secretário não tratasse dessa área. Ele disse que separou tudo de fato, formalmente, no nome inclusive.

- É no mínimo delicada essa conjugação que se anuncia. São atividades absolutamente incompatíveis. Quem lida pelo governo junto a entes de comunicação com notícia não pode lidar com a compra de espaço publicitário - disse Cláudio Humberto.