Título: União de publicidade com imprensa causa polêmica
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Fonte: O Globo, 24/03/2007, O País, p. 17

Said Farhat, Beraba e Luis Weiss acham preocupante a mistura; já Kotscho e Dines não vêem problema.

SÃO PAULO e BRASÍLIA. A decisão do presidente Lula de pôr sob o mesmo teto as áreas de relação com a imprensa, publicidade, propaganda e a construção de uma rede pública de TV provocou polêmica. O modelo só existiu, dessa forma, em alguns períodos do regime militar.

Mesmo o secretário de Comunicação no governo do general João Figueiredo, Said Farhat, disse ser contrário a se pôr sob o mesmo guarda-chuva a responsabilidade pela distribuição de verbas de propaganda e os contatos com a imprensa. Além de conceder poder de fogo "muito grande" para um ministro, a decisão pode acabar por interferir na distribuição das verbas publicitárias, o que daria margem para negociações escusas com veículos de comunicação, disse.

- É preciso ter bom senso para não tentar influir na forma como cada veículo faz a sua apuração e a veiculação da notícia - disse ele, que, à época, teria recusado o convite para assumir o cargo com autonomia para tratar da comunicação do governo e verbas publicitárias:

- Não queria ter em mãos qualquer forma de controle ideológico ou político.

Para o jornalista Marcelo Beraba, ombudsman da "Folha de S.Paulo", o governo precisa estabelecer quais as políticas para cada área.

- Juntar as áreas de comunicação do governo, publicidade e a nova rede pública de TV é preocupante. Elas podem se confundir - disse ele, para quem a junção de setores distintos pode se transformar num inconveniente. Para Beraba, tem faltado transparência e "sobrado opacidade" na relação dos governos com a imprensa:

- Não só nesse governo, no federal, e nos estaduais, a área de comunicação tem sido usada como instrumento político.

Para Beraba, o governo tem obrigação de apresentar à sociedade a forma como conduzirá a rede pública de TV.

Na avaliação do jornalista Luis Weiss, do Observatório da Imprensa, pôr a relação do governo com imprensa e as verbas publicitárias no mesmo prato é indigesto. "Se há estrutura cronicamente instável no Palácio do Planalto é a da comunicação. Lida-se com ela como se fosse uma sanfona: conforme o presidente, ela se abre e se desdobra, ou se fecha e se concentra".

Ele diz ainda: "Em qualquer formato, é um cobertor curto. E não há uma avaliação unânime sobre as vantagens de um modelo sobre outro. Um único ponto parece pacífico: levar ao mesmo forno o verbo (comunicação de governo) e a verba (publicidade estatal) é dar sopa para o azar, ou para coisas ainda mais indigestas", escreveu no site do Observatório da Imprensa.

Secretário de Imprensa no primeiro mandato de Lula, o jornalista Ricardo Kotscho disse que não vê problemas na decisão de reunir as áreas de comunicação e publicidade. Segundo ele, na sua época, cada uma delas trabalhou por conta própria, mas é "bobagem" achar que haverá problemas:

- O ministro tem é que se preocupar em trazer gente competente para as devidas áreas. O importante é ser honesto. E o Franklin tem credibilidade.

O diretor do site Observatório da Imprensa, Alberto Dines, disse que a concentração das áreas "é inusitada". Mas que Franklin Martins é um jornalista experimentado e sabe dos riscos de uma má administração.

- O fato de ter um ou dois não muda nada - disse ele.