Título: Partido tenta forçar um recuo do presidente
Autor: Lima, Maria e Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 25/03/2007, O País, p. 11

Líder diz que, sem Portos, Nascimento não assume pasta

BRASÍLIA. A apreensão do senador Alfredo Nascimento (PR-AM) ao longo da última semana era visível. Convidado há quase um mês para voltar ao comando do Ministério dos Transportes, de onde saiu no ano passado para disputar uma vaga no Senado, Nascimento começou a ser pressionado pelo partido a não tomar posse, caso Lula confirme o desmembramento da pasta, com a criação da Secretaria Nacional dos Portos. O Planalto chegou a informar, sexta-feira, que ele será empossado quarta-feira, mas o senador foi para o Amazonas sem receber o aviso.

Embora tenha participado das últimas reuniões do Conselho Político do governo, Nascimento não teve oportunidade de tratar do assunto com o presidente Lula e passou a última semana esperando um chamado do Planalto para acertar seu futuro.

A estratégia do PR é a de esticar a corda ao máximo para forçar um recuo de Lula. Até segunda ordem, a orientação da cúpula partidária é para que Nascimento não assuma o cargo enquanto persistir o impasse sobre o comando dos portos.

- Essa é uma questão pacífica dentro do partido. Se o governo insistir em retirar o controle dos portos do Ministério dos Transportes, Alfredo Nascimento não assume - afirma o líder da bancada na Câmara, Luciano de Castro (RR).

- Sem os portos, Alfredo não assume. Como alguém é convidado para gerenciar uma loja e na hora de assumir confiscam metade do estoque dessa loja? - reitera o senador Magno Malta (PR-ES).

"Ser da base ajuda. Não seria hipócrita de negar isso"

O líder do PR nega a barganha dos cargos ou que isso tenha influenciado no inchaço da legenda. Diz que o fato de o partido ser da base também ajuda a atrair parlamentares, especialmente os que não estão confortáveis na oposição:

- Ser da base do governo ajuda. Não seria hipócrita de negar isso. Ajuda para viabilizar as demandas que são encaminhadas por prefeitos.

Na votação que impediu, na semana passada, a instalação da CPI do Apagão, 33 dos 34 deputados do PR que estavam em plenário apoiaram o governo. Interlocutores de Lula, contudo, consideram que sua a margem de manobra no início do segundo mandato ainda é grande para que aceite uma chantagem.

- Quem tem de resolver isso é o presidente. É ele que governa e deve promover o equilíbrio na coalizão. Ele não pode contratar escândalos futuros nem ceder a chantagens - observa o líder do PSB no Senado, Renato Casagrande (ES).

O líder Luciano Castro já levou o recado da cúpula ao líder do governo na Câmara, José Múcio Monteiro (PTB-PR), que aposta em conciliação:

- O presidente vai resolver essa questão de forma a atender a todos e fortalecer a base.