Título: No IDH Ambiental, Brasil dá salto
Autor: Melo, Liana
Fonte: O Globo, 25/03/2007, Economia, p. 33

Pelo critério da sustentabilidade, EUA despencam em ranking mundial recém-criado.

Se a ONU passasse a incorporar a variável ambiental na avaliação feita, anualmente, pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), uma espécie de dança das cadeiras seria promovida entre as nações. Os Estados Unidos despencariam no ranking, enquanto o Brasil subiria alguns degraus. É que hoje não basta responder apenas a perguntas como: o que é a pobreza? Como medi-la? Quem são os pobres? E por que são pobres?

Desde que o ganhador do Prêmio Nobel de Economia Amartya Sen surpreendeu o mundo, nos anos 90, afirmando que a definição e a medição da pobreza não são uma questão apenas de cifras e médias, muita coisa mudou. Hoje, a pobreza ganhou um aliado de peso na classificação dos países. Os graus de poluição e depreciação dos recursos naturais passaram a ser medidas fundamentais para identificar se um país é mais ou menos sustentável.

Foi na tentativa de responder a essa pergunta que surgiu o IDH Ambiental, um índice híbrido calculado pelos técnicos do BNDES. Ele é uma combinação dos indicadores que compõem o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), de Amartya Sen, e das variáveis do Índice de Sustentabilidade Ambiental (ISA) - uma criação acadêmica concebida nos laboratórios das universidades americanas de Yale e Columbia.

Como nem todos os países que adotam o IDH (um total de 177) usam também o ISA (calculado apenas para 146 nações), o IDH Ambiental só pode ser aplicado nos países que aparecem concomitantemente nas duas listas. Conclusão: o ranking do IDH Ambiental incluiu apenas 139 países.

Brasil sobe do 54º para o 39º lugar

O Brasil, por exemplo, saiu bem na foto nesse novo índice. Ele ocupa a 39ª posição, enquanto, no IDH tradicional, está 15 degraus abaixo, ou seja, em 54º lugar entre 139 nações. No entanto, se o país for avaliado apenas pelas variáveis ambientais, ele estará ainda melhor. O Brasil passa a ocupar o 11º lugar no ranking do ISA.

- É que, pela concepção da sustentabilidade, não basta verificar o estágio atual do desenvolvimento econômico. É preciso considerar também os aspectos ambientais do desenvolvimento humano - explica Márcio Macedo da Costa, que ajudou Ana Raquel Martins na elaboração do IDH Ambiental.

Assim como o ISA, o IDH Ambiental é uma construção acadêmica desenvolvida por Ana Raquel na sua dissertação de mestrado apresentada na Universidade Federal Fluminense (UFF). Macedo foi seu orientador. Ambos são do BNDES.

É fácil entender a dança das cadeiras no caso brasileiro. Quando a questão da sustentabilidade é incluída, economias maiores, que demandam mais energia e recursos naturais, são mais penalizadas. O Brasil, por exemplo, tem atributos interessantes, já que detém ativos ambientais importantes, como disponibilidade de água e de terras.

Ninguém duvida dos avanços propostos por Amartya Sen no IDH. Ele foi o primeiro a aplicar à economia uma visão social, inovadora e mais realista e humana. Antes, o grau de desenvolvimento dos países era medido única e exclusivamente pelo Produto Interno Bruto (PIB, produção de bens e serviços). Foi ele quem permitiu que as múltiplas facetas da pobreza fossem traduzidas em números. Ao harmonizar IDH e ISA, os técnicos do BNDES se propuseram apenas a complementar o índice do Pnud, que mensurava indiretamente a sustentabilidade, traduzida no IDH pelos indicadores de longevidade e renda.

Maior poluidor do mundo, os Estados Unidos, por sua vez, despencam do oitavo lugar no IDH tradicional para a 15ª posição no IDH Ambiental. É que o país de George W. Bush ficou abaixo da média em praticamente todas as 76 variáveis ambientais consideradas pelo ISA, em que ficou em 44º lugar. O fato de os EUA não terem assinado o Protocolo de Kioto e se recusarem a cumprir compromissos de redução de emissões de poluentes influenciaram decisivamente para empurrar o país ladeira abaixo nesse índice.

- O ISA apresenta uma conclusão já conhecida, porém ainda não provada, de que a relação entre renda e preservação ambiental não ocorre de forma direta. Ou seja, uma não é necessariamente conseqüência da outra - analisa Macedo. Ele faz questão de ressaltar que os dois não tiveram a pretensão de questionar o IDH, apenas mostrar que esse índice não deve ser utilizado sozinho para apontar exemplos a serem seguidos.

Fica claro no trabalho de Macedo e Ana Raquel que o cuidado com o meio ambiente e a manutenção das potencialidades do desenvolvimento em bases sustentáveis são um desafio tanto para os países desenvolvidos quanto para as nações em desenvolvimento e de baixíssima renda.

POTÊNCIA EMERGENTE, CHINA TEM UM DOS DEZ PIORES INDICADORES AMBIENTAIS, na página 34