Título: A próxima etapa
Autor: Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 26/03/2007, O Globo, p. 2

Com a conclusão da reforma ministerial, nesta semana, o governo Lula passará a administrar a partilha, entre os partidos aliados, dos cargos de segundo e terceiro escalões. Esse processo vai durar seis meses e, ao final, será possível verificar se de fato houve ou não uma despetização do governo. Os petistas vão tentar manter suas posições e os aliados vão querer ampliar sua presença.

Esse drama é próprio do sistema político brasileiro e das coalizões que se formam para apoiar os governos. O presidente Fernando Henrique Cardoso passou por essa experiência em seus dois mandatos. Diferentemente do presidente Lula, FH sempre respeitou a correlação de forças, sobretudo as regionais, na hora de promover a partilha. No primeiro mandato, o presidente Lula privilegiou o PT, transformando os cargos em trampolim para o crescimento partidário. O tucano pôde agir assim porque o PSDB sempre foi frágil organicamente, ao contrário do PT, que tem pretensões hegemônicas.

Agora os aliados estão determinados a lutar por suas posições, e em vários estados já se articulam para que se faça uma distribuição equilibrada dos cargos. A presença do PMDB na coalizão, avaliam dirigentes de partidos aliados, é garantia de que o apetite petista será dosado, mas não de que partidos médios, como o PP, o PR, o PSB e o PDT, terão mais espaço. Na oposição, a expectativa é de que nesse processo se consolide a coalizão PT-PMDB, e passe a ter um peso ainda mais relativo no governo a aliança com o PSB e o PCdoB. O presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), aposta numa união estratégica com o PT e diz que é hora de aprofundar a aliança, deflagrada com a nomeação do Ministério:

- Uma parte do PMDB fez uma coalizão eleitoral com o presidente Lula, depois o partido fez uma coalizão política para eleger um petista para a presidência da Câmara. O momento é de fazer a coalizão administrativa. O PMDB decidiu participar desta coalizão. Esse compromisso nos impede de ficar um pouquinho e depois ir embora.

A disposição do PMDB de atrelar seu destino ao do PT não é garantia de que estarão juntos no futuro. Para que isso ocorra, será preciso integrar efetivamente o PMDB e demais aliados. Isso não implica apenas em espaços no poder, mas também na garantia de que o PT oferecerá reciprocidade aos aliados e a seus projetos de poder regionais.