Título: Nascimento volta para os Transportes
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 27/03/2007, O país, p. 8

Lula confirma o convite, mesmo com denúncias contra senador do PR.

BRASÍLIA. Num encontro de quase uma hora com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ontem à noite, no Palácio do Planalto, o senador Alfredo Nascimento (PR-AM) explicou as denúncias de que teria cometido crime eleitoral na campanha de 2006 e foi, no fim, convidado para voltar ao Ministério dos Transportes. Mas foi avisado também que a administração dos portos, que passará a uma secretaria, sairá da pasta.

Nascimento não deu entrevistas e, só à noite, o Planalto confirmou, extra-oficialmente, o convite e a criação da Secretaria de Portos. Segundo o líder do PR, Luciano de Castro, Nascimento explicou as denúncias e Lula confirmou sua ida para o ministério. Nascimento assume os Transportes como é hoje, mas o desmembramento virá logo em seguida, para acomodar o PSB.

- Nós nos opusemos ao desmembramento, por questões técnicas, mas se politicamente é imprescindível, estamos dispostos a discutir - disse Castro.

Antes, Castro avisara que, sem os portos, o PR não integraria o governo e que Nascimento passaria a ser da cota pessoal de Lula:

- Se o presidente quer dar o ministério sem os portos, tudo bem. Neste caso, o partido acha que Nascimento passa a ser uma escolha pessoal dele e não um representante do PR. Estamos livres para atuar.

Seis testemunhas confirmaram em depoimento as denúncias que levaram o Ministério Público Federal a denunciar Nascimento por compra de votos. Uma delas é considerada chave: Marcos Roberto Martins, dono de um posto de gasolina, em Manaus. Lá, em 16 de agosto de 2006, eleitores teriam abastecido seus carros com combustível pago pela campanha e receberam santinhos do candidato. No mesmo dia, oficiais de Justiça apreenderam no posto 36 requisições que davam direito a cinco litros de gasolina e 334 santinhos de Nascimento.

Martins contou que foi procurado por um homem chamado Daniel, que se apresentou como integrante do comitê eleitoral de Nascimento. Daniel, segundo ele, comprou 220 litros de gasolina e pediu que o posto confeccionasse de "42 a 44 papeizinhos" para funcionar como vale-combustível. O material de propaganda, segundo Martins, "foi deixado pelo Daniel".

Outras cinco testemunhas confirmam as informações, entre eles três frentistas que trabalhavam no dia. O PR divulgou material para desmentir as acusações, sendo uma nota fiscal do posto no valor de R$547,80 em nome do candidato. A nota, no entanto, é de 21 de agosto de 2006, cinco dias depois da apreensão da documentação. Para o MP, o fato caracteriza compra de votos, o que pode resultar em multa de até R$50 mil e na perda dos direitos políticos.

COLABORARAM Chico de Gois e Gerson Camarotti