Título: Ato por reforma política não mobiliza deputados
Autor: Lima, Maria
Fonte: O Globo, 28/03/2007, O País, p. 12

Chinaglia vai a evento, mas não espera leitura de manifesto do movimento, coordenado por Erundina.

BRASÍLIA. Na tentativa de agilizar a tramitação no Congresso, deputados de quase todos os partidos fizeram um ato ontem para lançar o manifesto parlamentar pela reforma política com participação popular. Com um plenário cheio de representantes do MST e de famílias do assentamento do Pipiripau, no entorno do Distrito Federal, o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), fez uma passagem relâmpago pelo evento, confirmando a má vontade generalizada na Casa com a matéria. E muitos dos convidados mal sabiam do que os parlamentares estavam falando.

O movimento é coordenado pela deputada Luiza Erundina (PSB-SP) e pretende se transformar num foro de discussão de outros temas, como o fortalecimento da democracia participativa, sistema eleitoral e partidos políticos, democratização da informação e da comunicação e transparência no Judiciário. Assim que Chinaglia se sentou, Erundina anunciou que José Antonio Moroni, representante dos movimentos sociais, leria o manifesto para o presidente da Câmara. Chinaglia disse, entretanto, que não poderia esperar.

- Tenho dois almoços agora, não vai dar - disse, fazendo ele mesmo um rápido discurso antes de deixar o local.

Do ato participaram representantes de OAB, CNBB, movimento das mulheres, e muitas chefes de família e crianças do assentamento do MST em Pipiripau. Os presentes nada entenderam do que era falado. Principalmente quando Chinaglia defendeu como pontos fundamentais da reforma política o financiamento público das campanhas políticas, voto distrital e fidelidade partidária.

- Esse negócio de financiamento de campanha, para nós, não vai resolver nada. Precisamos é de financiamento para botar água e luz lá no assentamento provisório. Essa reforma política não sei o que pode ajudar. Lá é um povão, a gente reuniu todo mundo e veio pra cá - disse Eleuzina Batista de Souza, uma das presentes ao ato.

- Esse movimento será uma ponte entre o Parlamento e a sociedade para construirmos uma proposta ampla e representativa de reforma política - disse Erundina.

O líder do PSOL, Chico Alencar (RJ), saudou os representantes de movimentos populares, disse que é preciso "desengravatar" a reforma política e falou da dificuldade do povo entender o assunto:

- O povão se pergunta o que é voto distrital. Mas precisa assumir essa luta como sua, para não continuarmos essa República sem povo.