Título: 'Terei de abrir espaço para dar cargos ao PDT'
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 29/03/2007, O País, p. 5

Ministro do Trabalho diz que loteará delegacias regionais, não mexe na CLT e que não é "corno nem tem paixão pelo mesmo sexo".

BRASÍLIA. Antes mesmo de assumir o Ministério do Trabalho, o pedetista fluminense Carlos Lupi promete polêmica. Ele avisa que vai comprar briga com o PT e pôr nas delegacias regionais do trabalho (DRTs) indicados do PDT. Lupi vai mexer num vespeiro, já que esse é quase um feudo dos petistas ligados ao movimento sindical. Num estilo direto, diz que não vai discutir qualquer mudança na reforma trabalhista que tire direitos assegurados pela CLT. Poucas horas depois de ser convidado por Lula para o Trabalho, Lupi revelou ontem de manhã os bastidores da negociação. Inicialmente cotado para o Ministério da Previdência, ele conta que o presidente Lula o chamou e apresentou as dificuldades: o PDT teria problemas para mudar a equipe técnica, que era a mesma do primeiro mandato, além das restrições da equipe econômica. "O Lula jogou limpo. Havia pressão da equipe econômica para não mudar o Ministério da Previdência. Lá, eu poderia mais rapidamente ter áreas de atrito com o governo", disse. A nomeação de Lupi surpreendeu o próprio Luiz Marinho. Isso porque ganha espaço no Ministério do Trabalho a Força Sindical, de Paulinho, adversário histórico da CUT.

Gerson Camarotti

O senhor estava cotado para o Ministério da Previdência. O que aconteceu? O senhor foi vetado pelo Planalto?

CARLOS LUPI: Já fazia um mês que eu só estudava sobre a Previdência. Também fui pego de surpresa com o convite para o Trabalho. Mas Lula jogou limpo. Ele disse que, se eu quisesse, seria o ministro da Previdência. Mas ponderou as dificuldades, como da nomeação de aliados para cargos. Isso porque a equipe da Previdência era a mesma desde o início do governo. Havia ainda a pressão da equipe econômica para não mudar a Previdência. Lá, eu poderia mais rapidamente ter áreas de atrito com o governo. Foi então que Lula me perguntou: "Por que você não vai para o Trabalho?"

E o que o senhor disse?

LUPI: Lembrei que o Luiz Marinho já estava no Ministério do Trabalho. Mas, na hora, o Lula disse que não tinha problema porque o Marinho era dele. Disse ainda que queria que eu ajudasse a sedimentar a relação entre PT e PDT, principalmente entre as centrais sindicais CUT e Força Sindical. Depois da conversa com o presidente, fui conversar com o Marinho. Disse para ele que ajudaria o presidente eu assumir o Trabalho e ele ir para a Previdência. A gente, na política, só não faz acordo com o demônio. Mesmo assim, chama o demônio para conversar.

Lá o senhor terá mais condições de montar sua equipe? Como ficarão as nomeações dos delegados regionais do Trabalho, cargos ocupados por petistas nos estados?

LUPI: Tenho que ter a minha equipe. Como presidente do PDT, terei que abrir espaço para contemplar o partido com cargos. Na Previdência, o perfil é muito mais técnico, e os quadros são de carreira. Mas, no Trabalho, terei mais condições de colocar pedetistas no governo. As delegacias regionais do Trabalho passarão para o controle do PDT. Vai ter outra briga por causa disso. Mas compro!

O senhor se sentiu preterido pelo fato de o presidente Lula ter oferecido o Trabalho?

LUPI: Não. Se fosse me deslocar para uma área que não tivesse afinidade com o PDT, como Ciência e Tecnologia, eu não aceitaria. Mas, para o Trabalho, a história é diferente. Na conversa, o Lula foi esperto. Ele disse: "A decisão é sua. Mas sabe quem criou o Ministério do Trabalho? Getúlio Vargas. Sabe quem foi ministro do Trabalho? Jango!"

E como ficou o ministro Luiz Marinho? Afinal, ele é um sindicalista e ex-presidente da CUT.

LUPI: O ministro Marinho não poderia negar uma solicitação do presidente da República. O Lula fez a reforma ministerial que ele queria. O Marinho vai para a Previdência com a missão de manter a equipe atual.

Há quase dois meses o PDT foi sondado para ocupar um ministério. O senhor não ficou muito exposto nesse período com a demora?

LUPI: Antes de eu ser convidado, investigaram toda a minha vida. Chegaram a ir no colégio em que estudei. Ninguém encontrou nada que agredisse a minha honra. Também não sou corno e, além disso, não tenho paixão por pessoa do mesmo sexo! Agora, não vejo problema na demora. Nós não apoiamos Lula no segundo turno das eleições. Também não pedimos ministério. O PDT é um pobre metido a besta. Mas Lula disse, há dois meses, que o partido teria lugar estratégico no governo.

Qual será sua linha de ação na pasta do Trabalho?

LUPI: Minha prioridade será a geração de emprego. Mas não tenho meta. O presidente Lula me pediu para eu resgatar o primeiro emprego. Eu também estou preocupado com os desempregados com mais de 50 anos. São pessoas que perdem o emprego e que ficam com dificuldade de voltar ao mercado, pois não têm especialização.

A equipe econômica limitou o último reajuste do salário mínimo por causa do déficit da Previdência. Como o senhor vai enfrentar isso no governo?

LUPI: Não há problema no governo para aumentar o salário mínimo. O problema é com os estados e municípios, que não têm condições de aumentar. Mas vou seguir a recomendação do presidente Lula de recuperar o poder de compra do salário mínimo o máximo possível.

Está parada no Congresso, e no governo, a reforma trabalhista. Qual sua posição sobre o tema?

LUPI: Não discuto uma reforma para tirar direitos trabalhistas assegurados pela CLT. Agora, no país há 33 milhões de trabalhadores com carteira assinada, enquanto 40 milhões não estão no mercado formal de emprego. Nesse caso, precisamos nos adaptar a uma realidade moderna, para incluir quem está fora do mercado de trabalho formal. O que fazer pelo mercado informal é o meu maior desafio.

E qual a sua posição sobre a reforma sindical?

LUPI: Ainda não tenho uma posição. Tenho que discutir o tema com as centrais. Não quero me precipitar.