Título: Gol compra Nova Varig
Autor: Doca, Geralda e Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 29/03/2007, Economia, p. 21

Negócio, que chega a US$320 milhões, foi incentivado pelo presidente Lula.

No maior negócio do mercado brasileiro de aviação civil, a Gol anunciou ontem a compra da Nova Varig por cerca de US$320 milhões. Foi Lula quem pediu à Gol para comprar a concorrente, há seis meses, revelou à noite o presidente do Conselho de Administração da empresa compradora, Nenê Constantino. Ele e o filho, Constantino Júnior, presidente da Gol, foram a Brasília informar o negócio a Lula, como publicou ontem o colunista Ancelmo Gois.

¿ Ele pediu a mim para ajudar a dar um jeito na Varig ¿ declarou Nenê Constantino, acompanhado do advogado Roberto Teixeira, que atua em aviação e é compadre de Lula.

Teixeira confirmou que ajudou o negócio a se concretizar:

¿ Cuidei da estruturação jurídica para que se chegasse a esse ponto.

Constantino Júnior garantiu que as empresas vão funcionar de forma independente e competir. Ele disse que a Gol imprimirá mais eficiência operacional à Nova Varig, a fim de reduzir custos, e que isso será repassado ao passageiro. O programa de milhagem da Varig, o Smiles, que tem cinco milhões de inscritos, será mantido. A Gol continuará fiel ao modelo de baixo custo e baixas tarifas, com uma única classe de serviços. Já a Nova Varig oferecerá serviços terá vôos diretos e duas classes nas rotas de longa distância: econômica e executiva.

¿ Cada empresa manterá sua vocação ¿ afirmou Constantino Júnior, que não quis comentar a concentração de vôos na ponte aérea Rio-São Paulo. ¿ As linhas internacionais serão retomadas, vamos ampliar o que a Varig opera.

A Gol dará informações detalhadas hoje sobre o negócio feito com a VarigLog, que era dona da Nova Varig desde julho passado. Não foi explicado, inclusive, o que acontecerá com a Lan Chile, que fez um aporte de US$17,1 milhões na Nova Varig e podia exercer o direito de compra de ações da empresa.

A Gol vai desembolsar US$98 milhões em dinheiro, além de entregar 6,1 milhões de ações preferenciais (sem direito a voto), representativas de 3% de seu capital, ao fundo estrangeiro Matlin Patterson, que lidera o grupo controlador da Nova Varig. A Gol assumirá ainda uma dívida de R$100 milhões da Nova Varig em debêntures.

Segunda maior empresa aérea do país, a Gol ganha corpo para brigar de igual para igual com a TAM no mercado doméstico. A Gol está incorporando os 4,57% da Nova Varig, elevando para 44,83% sua fatia, muito próxima dos 47,33% da TAM. A transação precisa do crivo do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e da aprovação da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

A Gol pretende dobrar a frota da Nova Varig para 34 aeronaves. Com isso, a empresa teria condição de voar plenamente para Londres, Milão, Paris, Madri, Frankfurt, Nova York, Los Angeles, Cidade do México, Buenos Aires, Santiago, Bogotá e Caracas. A Nova Varig já voa para Caracas, Bogotá, Buenos Aires e Frankfurt, além de 14 destinos nacionais. A Gol voa para 48 cidades brasileiras e Argentina, Bolívia, Chile, Paraguai, Peru e Uruguai.

Sobre a diferença entre o preço da compra da Nova Varig em julho ¿ US$24 milhões ¿ e o de venda, Constantino disse:

¿ Houve um investimento de grande monta por parte do acionista antigo na companhia, para mantê-la em operação. A Varig saiu de dois aviões durante o leilão e hoje opera 16.

Perguntado se a operação prevê algum recurso para a Varig antiga, Constantino Júnior respondeu que vai cumprir o plano de recuperação judicial. Para o juiz Luiz Roberto Ayoub, que comanda o processo de recuperação judicial da Varig, a nova lei de falências se tornou efetiva:

¿ Temos uma empresa recuperada, caso contrário já teria quebrado.

Há repasses obrigatórios da Nova Varig para a empresa antiga que serão assumidos pela Gol, como o compromisso de manter o Smiles.

O presidente da Gol acrescentou que Lula considerou positivo o fato de haver um estímulo à competição. Para receber os empresários, Lula convocou quatro ministros (Defesa, Trabalho, Casa Civil e Relações Instituições) e os presidente da Infraero, brigadeiro José Carlos Pereira, e da Agência Nacional de Aviação Civil, Milton Zuanazzi. O vice-presidente, José Alencar, disse que a família Constantino sempre foi considerada gente séria em Minas, e elogiou a venda.

ANALISTAS: CONCENTRAÇÃO PODE SER PREJUDICIAL, na página 22