Título: PIB do Brasil soma pela 1ª vez US$1 trilhão
Autor: Novo, Aguinaldo e Almeida, Cássia
Fonte: O Globo, 29/03/2007, Economia, p. 25

Na moeda brasileira, tamanho da economia alcançou R$2,3 tri em 2006, após revisão do cálculo feita pelo IBGE.

SÃO PAULO e RIO. O Brasil entrou no clube dos países de US$1 trilhão. Isso foi possível com a revisão do Produto Interno Bruto (PIB, produção de bens e serviços no país) do ano passado, divulgada ontem pelo IBGE e que mostrou um crescimento da economia de 3,7%, contra 2,9% apurados anteriormente. Assim, o tamanho da economia ficou em R$2,3 trilhões. Segundo os cálculos do economista-chefe da consultoria Austin Rating, Alex Agostini, o PIB brasileiro alcançou US$1,066 trilhão no ano passado, contra os US$882,13 bilhões de 2005, usando a cotação média do câmbio em 2006:

¿ Com isso, o país diminuiu a diferença que o separa de Canadá e Espanha, que ocupam respectivamente a oitava e a nona colocações no ranking, com cerca de US$1,2 bilhão, e abriu US$91 bilhões de frente sobre a Rússia (US$975 bilhões), que vem em 11º lugar.

A despeito da maior variação do PIB no ano passado, parte do avanço do Brasil no ranking mundial também deve ser creditado à valorização do real frente ao dólar (de 8,80% em 2006), que contribuiu para o resultado final.

Com a revisão dos números do PIB, subiu também a classificação brasileira no ranking da América Latina, mas o país continua longe dos líderes: Argentina (8%) e Venezuela (7,5%). O Brasil, que pela série antiga só apresentava um crescimento superior ao do Haiti (2,3%), ficando em 18º entre 19 países, agora aparece na 15ª posição. Fica empatado com a Nicarágua (3,7%) e supera El Salvador (3,5%), Paraguai (3,5%) e o mesmo Haiti.

Esse avanço maior da economia brasileira, pela ótica da demanda, deveu-se principalmente à alta do consumo das famílias, que subiu de 3,8%, na medida antiga, para 4,3%. Outro fator a engordar as contas do país veio do investimento. Até a divulgação de ontem, acreditava-se que a formação bruta de capital fixo (investimento na produção) teria subido 6,3%, quando na verdade a alta foi de 8,7%. Assim, a taxa de investimento (o quanto da economia é voltado para ampliar a capacidade produtiva) subiu de 16,3% para 16,8% do PIB.

¿ Mesmo com a taxa mais alta, não há uma generalização do investimento pelas atividades econômicas. Os recursos estão muito concentrados na indústria. Na infra-estrutura ainda é pouco, como podemos ver com o apagão aéreo ¿ disse o economista Claudio Dedecca, da Unicamp.

Segundo o economista da PUC José Márcio Camargo, a economia brasileira está crescendo baseada no aumento das taxas de consumo do governo (3,6%) e das famílias (4,3%):

¿ Isso não é bom, porque o país precisa sustentar esse crescimento incrementando a taxa de investimento, que é inferior à média dos países em desenvolvimento, de 21%.

Taxa do último trimestre alcançou 4,8%

Nos fatores da produção, a agropecuária surpreendeu. A taxa de 3,2%, apurada pela metodologia anterior, subiu para 4,1%, mostrando que a recuperação da crise de 2005 foi mais forte. Mas a indústria decepcionou: o avanço de 2,8% ficou abaixo da média do país, indicando os efeitos da forte importação (alta de 18,1% em 2006) para atender a expansão maior do consumo.

Com o aumento do consumo das famílias, do consumo do governo e do investimento, a contribuição da demanda doméstica para o crescimento subiu: passou de 4,2% para 5,1%. O setor externo (exportação menos importações) teve participação negativa de 1,4%, a mesma apurada antes da mudança.

Além do número anual, o IBGE revisou as taxas trimestrais. De outubro a dezembro de 2006, a expansão foi de 4,8% frente ao mesmo período de 2005, bem superior aos 3,8% divulgados antes. Com esse crescimento, o economista do Grupo de Conjuntura da UFRJ Caio Prates estima que o Brasil tem condições de crescer até 4,7% este ano.

¿ No ano passado, o ritmo menor do último trimestre de 2005 prejudicou as contas de 2006. Este ano, o efeito é inverso, o ritmo da economia mais forte no fim do ano vai favorecer os números de 2007 ¿ disse Prates.

Mas ele ainda teme a apreciação exagerada do dólar, que já está comprometendo a produção interna, com a indústria avançando bem menos que o consumo.