Título: O foco da reforma
Autor: Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 30/03/2007, O Globo, p. 2

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva concluiu a reforma ministerial para o segundo mandato. As mudanças feitas e a nova composição do Ministério revelam que sua prioridade foi assegurar a estabilidade política. A crise de 2005, quando a oposição esteve próxima de abreviar seu mandato, resultou numa forte presença do PMDB, no fortalecimento do PT e na reincorporação do PDT.

A nova equipe consolida a ampla bancada governista na Câmara e, pela primeira vez, garante maioria parlamentar no Senado. A montagem feita também aponta para uma parceria política e eleitoral com o PMDB para as eleições presidenciais de 2010. A esquerda perde influência no governo. Isso não se deve apenas ao peso que o PMDB terá no governo, mas também é resultado da desconfiança dos petistas com o recém-criado Bloco de Esquerda, integrado por PSB, PDT e PCdoB, que têm ambições e planos para 2010.

As mudanças, no entanto, não atacaram com ênfase a principal deficiência do primeiro mandato: a de gestão. Petistas e aliados reconhecem que o presidente sacrificou o aspecto administrativo em função do político. Em algumas áreas, essa opção poderá acabar atrapalhando a execução do principal projeto para o segundo mandato: o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Para superar essa deficiência, o presidente Lula vai concentrar ainda mais poderes na Presidência da República, que passará a controlar diretamente a execução das medidas do PAC. Um integrante do governo confirmou que a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, que já coordena a ação de governo, terá ainda mais poderes. Sua principal missão será a de assegurar que cada uma das ações previstas no PAC saia do papel. Caberá a ela executar a promessa do presidente, de pegar no pé dos ministros e dos dirigentes de estatais.

Por fim, o presidente Lula deu mostras de que não contemplará, de braços cruzados, a crise da Previdência Social. Mesmo que tenha dito que nada será feito à custa dos pobres, o presidente afirmou claramente que não entregou a pasta ao PDT porque os trabalhistas teriam dificuldades para promover mudanças naquela área. Para mexer numa questão tão sensível, Lula escalou o ex-ministro do Trabalho Luiz Marinho, que tem a confiança do movimento sindical e autoridade para convencer os trabalhadores de que as mudanças são necessárias.