Título: Miguel Jorge: 'Claro que BNDES ficará sob o comando do Desenvolvimento'
Autor: Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 30/03/2007, O País, p. 4

Novo ministro não revela, porém, se manterá Fiocca na direção do banco.

BRASÍLIA. Ao lado do ex-ministro Luiz Fernando Furlan, o novo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Miguel Jorge, avisou ontem que o BNDES ficará sob seu comando e que cabe à sua pasta escolher a direção do banco. O controle do Ministério da Fazenda sobre a instituição era um dos motivos de insatisfação de Furlan, que tentou, sem sucesso, mudar essa correlação durante seus quatro anos e dois meses de governo. Miguel Jorge anunciou ainda que, por determinação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Ministério do Desenvolvimento deverá dar prioridade também ao mercado interno. Até agora, as ações do ministério visavam basicamente às exportações.

Ministro lembra da briga entre Lessa e Furlan

Miguel Jorge afirmou que, no atual momento político, não há razão para o BNDES - responsável por linhas de financiamento para empresas - não estar sob comando do Desenvolvimento. O banco ainda não divulgou o orçamento para este ano. Em 2006, o desembolso total foi de R$52,3 bilhões, o maior de sua história. Indagado se manteria o atual presidente do BNDES, Demian Fiocca, respondeu apenas que ainda não analisou o assunto. Sinalizou que deverá haver mudanças, mas que nada será feito de forma abrupta.

- Claro que o BNDES ficará sob o comando do Desenvolvimento, inclusive com a direção. Agora, as coisas estão colocadas em outros termos, de absoluta normalidade e, na normalidade, o BNDES está ligado ao Desenvolvimento. Houve uma questão política, que já está no lixo da história - disse, lembrando desentendimentos na gestão de Carlos Lessa no BNDES com Furlan.

Os desentendimentos, citados também por Lula em seu discurso, levaram à demissão de Lessa, substituído por Guido Mantega. Na Fazenda, Mantega nomeou Demian Fiocca presidente do BNDES, situação que tentou manter até poucas horas antes da posse de Jorge.

- É preciso pensar em termos históricos. Mantega foi fundamental como peça de transição, porque é público e notório que havia um estresse entre o ministério e o presidente do BNDES na época (Lessa). Era preciso uma distensão lenta e gradual para que houvesse essa abertura - disse Miguel Jorge.

Fiocca, presente à cerimônia, não quis falar do futuro:

- Hoje é um dia de celebração. Não vou entrar nesse assunto.

Miguel Jorge disse que Lula determinou que sejam adotadas ações, como desoneração de investimentos da produção, para melhorar o mercado interno. Mas ressaltou que isso não significa deixar as exportações em segundo lugar. Ele chamou de "espetacular" a gestão de Furlan, afirmando que nunca se pensou em ultrapassar os US$100 bilhões em exportações:

- As exportações sempre estarão em primeiro plano. O Ministério vai ter os olhos mais voltados para o mercado interno do que para o externo. Essa orientação vai ser seguida.

O novo ministro, que era executivo do Banco Santander, defendeu o câmbio flutuante. Para ele, desonerações de tributos não devem ser feitas para compensar perdas com a desvalorização do dólar frente ao real.

- Nas exportações, os resultados do país eram inimagináveis há quatro anos. O dólar está onde ele está. Elas (as empresas) têm se adaptado de maneira impressionante .

No Planalto, na posse de Miguel Jorge, Lula se derramou em elogios a Furlan e brincou com a constante cobrança de Furlan pela redução de impostos.

- Em todas as políticas de desoneração tem o dedo do Furlan. Sujeitinho impertinente. Tesoureiro tem que ter mão de vaca, tem que estar sempre pronto para dizer não.

Furlan manteve o discurso:

- Nesse período de governo alguns conceitos ficaram firmados: não é possível onerar investimentos.

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