Título: Lula quer TV sem 'puxa-sacos' e sem 'pichação'
Autor: Gois, Chico de e Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 30/03/2007, O País, p. 9

Presidente planeja rede onde caiba teatro, educação, jornalismo e fala também em uma rádio de alcance nacional.

BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva dedicou boa parte de seu discurso de ontem, na solenidade de posse de cinco novos ministros, para defender seu projeto de criar no país uma TV pública de alcance nacional. Ao falar sobre a "grande expectativa" que está depositando no novo ministro da Secretaria de Comunicação Social, Franklin Martins, Lula afirmou que a TV pública que pretende implantar, ainda sem data definida, não será chapa-branca e sim para que a informação apareça "tal como ela é, sem pintar de cor-de-rosa, mas também sem pichá-la".

- Eu sonho grande, sonho com uma coisa quase 24 horas por dia, não sei se a gente vai conseguir construir. E que não seja uma coisa chapa-branca, porque a chapa-branca parece bom, mas enche o saco. Gente puxando o saco não dá certo. Nós temos que fazer uma coisa séria, não é uma coisa para falar bem do governo ou para falar mal do governo, é uma coisa para informar. A informação tal como ela é, sem pintar de cor-de-rosa, mas também sem pichá-la. É isso que nós vamos querer. E nós já temos exemplos, tem a TV Cultura, em São Paulo, que tem boa programação - disse.

Lula também revelou que, além da implementação da TV pública, que deve consumir R$250 milhões, também já pensa em ter uma rádio de alcance nacional:

- Eu também sonho que a gente possa até ter uma rádio nacional. É mais difícil, mas vamos tentar, não custa nada, falar as coisas para o Brasil inteiro.

Nos planos do presidente, a TV pública terá em sua grade programas educativos de português, matemática, idiomas, além de peças teatrais e outras atividades culturais, e programas noticiosos. Disse que a TV brasileira tem uma programação extensa, mas, segundo ele, em horários que não atendem a todos, e citou o caso do deputado petista Vicentinho (SP), que levantava às 5h30m para poder estudar e fazer o vestibular. Lula disse que não está preocupado se a TV terá ou não audiência.

- Por que não pode ter um curso ao meio-dia, às duas da tarde? Como nós não queremos competir, nós só queremos somar, só queremos criar oportunidade para que, do Oiapoque ao Chuí, as pessoas possam ver coisas. E também um programa jornalístico. O que interessa é que tem uma opção para quem quiser ter acesso a uma coisa de muita profundidade - disse Lula.

Ao anunciar Franklin Martins como ministro da nova Secretaria de Comunicação Social, que vai cuidar ao mesmo tempo da área de imprensa e da publicidade institucional do governo, o presidente disse que o chamou para renovar o setor de comunicação da Presidência, porque André Singer, o ex-secretário e ex-porta-voz, já havia lhe comunicado que estava com vontade de voltar para a USP. E alertou o novo ministro:

- Então, meu caro, essa vai ser uma tarefa gigantesca. Prepare-se, passe bastante cera nas costas porque se apanha um pouco, mas eu acho que você já está calejado, já apanhou muito na vida e eu acho que você sabe que a coisa não é fácil.

Lula disse ter duvidado que Franklin aceitasse o cargo

Lula disse ainda, no discurso, que achava que Franklin não aceitaria o convite para trabalhar no governo.

- Nosso querido Franklin Martins é daquelas pessoas, da mesma forma que foi o André no começo ou o Ricardo Kotscho, que a gente vai convidar pensando que não vão aceitar. Você vai sempre com uma certa dúvida, um jornalista bem remunerado, será que essas pessoas vão largar? O André era do Conselho Editorial da "Folha de S. Paulo", professor da USP, eu falei: será que esse cara vai largar tudo isso por R$7 mil? Largou. Da mesma forma que o Ricardo Kotscho largou e eu falei: bom, agora eu vou convidar o nosso querido Franklin Martins para vir aqui - contou. - Eu falei: esse homem, deve ser homem grosso da imprensa, porque aparecia na Globo todo dia, depois na Bandeirantes, fala bem, mais político do que nós, eu falei: esse cidadão não vai aceitar.