Título: Magri ainda trata cães como seres humanos
Autor: Freire, Flávio
Fonte: O Globo, 30/03/2007, O País, p. 14

Quinze anos depois, ex-ministro do Trabalho e Previdência hoje trabalha no Sindicato dos Aposentados, em SP

SÃO PAULO. Do amplo e arejado gabinete do Ministério do Trabalho e Previdência que ocupava há 15 anos, o ex-ministro Antônio Rogério Magri passou a ocupar uma pequena sala de 20 metros quadrados na sede do Sindicato Nacional dos Aposentados, no Centro de São Paulo, onde hoje trabalha como diretor de Relações Internacionais. Desde que foi demitido do cargo, em 1992, pelo então presidente Fernando Collor - hoje senador - Magri voltou às suas raízes.

Na última década, ele trabalhou como sindicalista e atualmente despacha como diretor de base da Força Sindical, além de fazer assessoria para quase uma dezena de sindicatos e confederações. Ex-presidente da Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT), de onde saiu em 1990 para ocupar o ministério, Magri diz que hoje, aos 66 anos, prefere contribuir para o crescimento do país somente ao lado dos trabalhadores.

- Considero que estou trabalhando mais pelo país do que se fosse um deputado ou um senador - diz ele.

Da época de Brasília, o humor despachado do ex-ministro parece tão "imexível" quanto ele estava no cargo, depois da série de denúncias de que teria recebido US$30 mil de propina para liberar verbas para a obra do Canal da Maternidade, no Acre. Magri não resistiu ao escândalo.

- Dá para acreditar que o Magri pegou US$30 mil quando o ministério tinha um orçamento de US$50 bilhões? - argumenta às gargalhadas o ex-ministro, que por anos evitou dar entrevistas ou falar do tempo de governo.

Magri diz que não tem mágoas. Sobre os recentes escândalos que assolaram o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, usa de ironia em sua autodefesa.

- Esses escândalos me fazem pensar que o Collor deveria ter sido processado no Juizado de Pequenas Causas - diz. - Esse Marcos Valério mexeu com dinheiro grande, e em nome de muita gente envolvida no governo.

Talvez pela afinidade com a luta sindical, Magri não faz críticas a Lula. Diz que o presidente é "sério e trabalhador", e considera impossível julgá-lo pois teria sido enganado por seus companheiros.

Hoje com salário fixo em torno de R$4 mil, aposentadoria na casa dos R$3 mil e um pacote de rendimentos fruto das assessorias que presta a sindicatos, Magri diz que não gosta de luxo. Prefere passar o tempo com a família, a qual inclui os dois pastores alemães, um dálmata, um labrador e uma poodle. Sim, Magri mantém radicalmente a tese de que os cães são como seres humanos.

- Lá em casa, quem come primeiro, quem toma remédio primeiro, são os cães. Pode perguntar para qualquer pessoa que tem cachorro se não pensa como eu - diz.