Título: Onda de recordes no mercado
Autor: Eloy, Patricia
Fonte: O Globo, 30/03/2007, Economia, p. 25

Dólar tem a cotação mais baixa em 6 anos, R$2,045, e risco-Brasil é o menor da história.

Apostas agressivas dos investidores estrangeiros numa queda do dólar, o elevado saldo comercial brasileiro e o otimismo com indicadores da economia americana levaram o risco-Brasil - indicador da confiança dos aplicadores externos no país - e o dólar a patamares inéditos. A moeda americana, que chegou a valer R$2,041 durante o dia, fechou em queda de 1,16%, cotada a R$2,045 para venda. É a menor cotação desde 7 de março de 2001 (R$2,043), último ano em que o dólar foi negociado em torno de R$1,90. Segundo analistas, a moeda caminha para os R$2 nos próximos dias. Já o risco-Brasil atingiu ontem o nível recorde de 168 pontos centesimais, uma queda de 2,33% em relação à véspera. Quanto menor o indicador, maior a confiança dos investidores.

E o Brasil, que ostentava o quinto maior risco entre as nações emergentes há um mês, melhorou uma posição no ranking elaborado pelo banco americano JP Morgan: hoje figura no sexto lugar e está prestes a ultrapassar as Filipinas (165 pontos centesimais). Analistas explicam que a mudança no ranking e a proximidade da média de risco das nações em desenvolvimento (166 pontos centesimais) refletem a maior confiança dos investidores estrangeiros na economia do país, bem como sua disposição para aplicar em ativos brasileiros.

Esse movimento também explica a queda forte do dólar, que acumula perdas de 4,31% este ano. As apostas dos investidores externos numa valorização do real - as chamadas posições vendidas em câmbio, no jargão do mercado - somam hoje US$12,063 bilhões na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F). Em dezembro, esse tipo de aplicação somava US$6,7 bilhões e, no dia 28 de fevereiro, movimentava US$8,586 bilhões na BM&F.

Ontem, outro fator contribuiu para a queda da moeda americana: a proximidade do vencimento dos contratos futuros de dólar. Tais aplicações são remuneradas pela cotação média do dólar - a chamada Ptax - do último dia útil do mês, ou seja, hoje. Como a maior parte dos investidores estrangeiros aposta num dólar mais baixo, muitos forçaram ontem uma queda nas cotações.

O cenário internacional também conspirou a favor do dólar e do risco mais baixos. Os investidores comemoraram a revisão para cima do Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos e a queda nos pedidos de auxílio-desemprego na maior economia do planeta. Os dois indicadores sugerem uma economia mais pujante, afastando - pelo menos por ora - os rumores recorrentes no mercado de que os EUA poderiam enfrentar uma forte desaceleração, o que frearia o ritmo de expansão global.

A disparada nas cotações do petróleo contribuíram para o clima positivo, especialmente na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), já que fez as ações da Petrobras - empresa com maior participação no Ibovespa (16,27%) - subirem 5,55% ontem, a terceira maior alta do índice. Com isso, a Bovespa fechou com uma valorização de 1,96%.

Mantega: câmbio é preocupante

Para analistas, o otimismo do mercado brasileiro depende da evolução da economia americana. Quando o assunto é câmbio, são categóricos: a tendência é de que a moeda chegue aos R$2 a curto prazo, mesmo com as compras diárias de dólares pelo Banco Central (BC).

- É simples: a oferta supera largamente a demanda e hoje o BC está praticamente sozinho nas compras de moeda. Não dá para lutar com o forte fluxo de moeda estrangeira que entra no país como resultado de fluxos comerciais, nem contra as agressivas apostas dos estrangeiros num dólar mais baixo. Por isso, acredito que a moeda pode chegar aos R$2 nos próximos dias - avalia Mário Paiva, analista de câmbio da corretora Liquidez.

Para José Alfredo Lamy, sócio da Cenário Investimentos, a moeda americana pode até mesmo se aproximar do patamar de R$1,90, o que não ocorre desde outubro de 2000:

- O recuo nas exportações tem sido compensado pela alta nos preços das matérias-primas, o que tem garantido a entrada de dólares para o país. Apenas uma redução nas tarifas de importações poderia equilibrar o fluxo cambial, gerando uma maior saída de dólares. Entramos numa rota que parece levar o dólar para algo em torno de R$1,90 a curto prazo. O BC pode tentar defender a moeda, mas não deve conseguir alterar o movimento de queda - pondera Lamy.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, voltou a dizer ontem que está preocupado com o câmbio (o real valorizado frente ao dólar americano), mas reconheceu que esse cenário é inevitável neste momento:

- A economia está crescendo e a balança comercial continua aquecida e gerando fortes superávits, o que aumenta a entrada de moeda estrangeira no país - disse o ministro.

A inflação medida pelo Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) acelerou em março, pressionada pelos alimentos in natura. Segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV), os preços subiram 0,34% em março, acima das expectativas dos analistas de 0,31% para o índice. Em fevereiro, o IGP-M havia subido 0,27%. No ano, a inflação está acumulada em 1,11% e, nos últimos 12 meses, em 4,26%.

COLABOROU Patrícia Duarte

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