Título: Nos vôos para o exterior, participação de 70%
Autor: Santos, Ana Cecília e Rodrigues, Lino
Fonte: O Globo, 30/03/2007, Economia, p. 27

Segundo cálculos da Anac, a Gol ficará com o filé mignon das rotas dos EUA e da Europa.

BRASÍLIA, SÃO PAULO e RIO. Com a compra da Nova Varig, a Gol dará um salto no mercado internacional, principalmente nas rotas que ligam o Brasil aos Estados Unidos (Miami e Nova York) e à Europa, considerados o filé mignon no exterior. O negócio permitirá à companhia mais do que triplicar a sua participação, que hoje é de 18,94% e pode ultrapassar os 70%, segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

A Gol espera reativar todas as rotas internacionais da Nova Varig em até 12 meses. A Nova Varig tem autorizações para voar para importantes destinos no exterior, como Londres, Paris, Milão, Nova York e Miami, mas vinha operando apenas a rota para Frankfurt (Alemanha). Essas autorizações, contudo, expiram em junho, e precisam ser prorrogadas pela Anac.

- Vamos pleitear a extensão do prazo, porque entendemos que é necessário e trará benefícios à sociedade - justificou o presidente da Gol, Constantino de Oliveira Júnior.

Segundo ele, inicialmente as linhas da Nova Varig para a Europa e para a América do Norte serão operadas por aeronaves 767 da Boeing, que devem ser arrendadas nos próximos meses. O plano é ter as classes econômica e executiva em rotas internacionais.

Tarifas da Nova Varig devem ser mais caras

A Varig só pousa hoje em quatro países: Alemanha (sete vôos para Frankfurt), Argentina (14 vôos para Buenos Aires), Colômbia (sete para Bogotá) e Venezuela (seis vôos para Caracas).

Só com os destinos hoje nas mãos da Varig, o total de vôos semanais da Gol-Nova Varig subirá para 231 e permitirá atender nove novos destinos, além dos seis já operados. Ou seja, a Gol passaria a TAM - hoje líder absoluta nas rotas estrangeiras, com 61,01% do mercado. Com 142 freqüências semanais, a TAM está em oito países.

Inicialmente, a Gol pretende incorporar 14 jatos de longo alcance (767) e outros 20 modelos 737 à frota da Nova Varig. Depois, quer abrir concorrência entre Boeing e Airbus para escolher aeronaves para as linhas internacionais. A Gol tem encomendados 121 aviões da Boeing, e continuará voando exclusivamente com os modelos da fabricante.

A Varig, garantiu Constantino, continuará sendo um empresa independente, que competirá com a Gol. Como terá serviços de alta qualidade numa classe única nos vôos domésticos, as tarifas da Nova Varig deverão ser mais caras:

- Adicionando serviços, a Varig dificilmente terá os mesmos custos da Gol.

O presidente da Gol reafirmou que a marca Varig será mantida e a idéia é reativar rapidamente os pontos de check-in e slots (autorizações de pouso e decolagem) nos aeroportos nacionais. A empresa pretende também aproveitar ao máximo o quadro de cerca de 2 mil funcionários da Nova Varig.

- Vamos buscar os valores profissionais dentro da própria Varig e daremos oportunidades aos quadros da empresa - disse Constantino.

Em alguns mercados, como EUA e Europa, haverá grande embate entre Gol e TAM. Por exemplo, para Londres e Milão, as duas companhias terão o mesmo número de freqüências semanais. Especialistas do mercado são unânimes em avaliar que a grande vantagem para a Gol será mesmo no mercado internacional, pois, além dos slots em poder da Varig, a empresa poderá ainda chegar a outros continentes via compartilhamento de vôos, além de reeditar a parceria internacional (Star Alliance, que reúne gigantes como Lufthansa e United Airlines).

Mas haverá ganhos também no mercado doméstico, diz o vice-presidente do Instituto Brasileiro de Estudos Estratégicos e de Políticas Públicas em Transportes Aéreos (Cepta), Vladimir Silva. Segundo ele, além da ponte aérea, a empresa vai se fortalecer no Sul-Sudeste, sobretudo em destinos como Curitiba, Joinville, Porto Alegre, Belo Horizonte e Vitória.

Para analista, guerra das tarifas será acirrada

O economista e consultor de aviação, Paulo Sampaio, vê com otimismo a transação que, segundo ele, deverá acirrar a guerra de tarifas:

- No setor doméstico, as tarifas podem ser reduzidas com o acirramento da disputa entre as duas companhias.

Mas para Sampaio, o benefício para os consumidores será maior no setor internacional:

- Com as rotas internacionais da Varig sendo reativadas, a TAM e as outras companhias internacionais terão concorrência, o que influencia no preço das passagens.

- A TAM pode sentir um pouco a pressão e reduzir as tarifas para tentar ganhar mercado - diz Eduardo Puzziello, analista do Banco Fator.

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