Título: Relação comercial com o Irã causa mal-estar
Autor: Oliveira, Eliane e Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 31/03/2007, O País, p. 10

Celso Amorim afirma que Brasil respeita sanções estabelecidas pelo Conselho de Segurança da ONU.

Embaixada americana diz, em nota, que é necessário o isolamento do país, no qual a Petrobras tem investimentos.

WASHINGTON. A véspera da reunião do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o presidente George W. Bush, em Camp David, no estado de Maryland, foi marcada por um clima de mal-estar. A embaixada americana no Brasil tornou pública a preocupação do governo dos EUA com os investimentos da Petrobras no Irã, país alvo de sanções da comunidade internacional devido ao seu programa nuclear. Indagado sobre o tema, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse que não há o que impeça a Petrobras de atuar nas áreas de petróleo e gás naquele país.

- Não se investe em petróleo e em outros recursos por simpatia política ou afinidade ideológica. É uma decisão de natureza econômico-comercial de qualquer país - disse Amorim.

Em nota, a embaixada dos EUA frisou que investimentos em petróleo e gás no Irã vão contra os interesses internacionais de pressionar aquele país a aceitar as obrigações relacionadas ao enriquecimento do urânio. O governo americano destacou a necessidade de isolar o Irã.

"A comunidade internacional está dizendo ao Irã que, se eles não estão preparados para abandonar suas ambições de armas nucleares, vão ficar isolados da comunidade internacional", diz o comunicado.

Segundo Amorim, o Conselho de Segurança da ONU estabeleceu sanções contra o Irã "muito precisas", respeitadas pelo Brasil. Ele disse que não há resolução sobre o comércio e a exploração de petróleo.

O ministro disse que o presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, jamais comentou ter sofrido pressão por causa das atividades da empresa no Irã. Segundo Amorim , o tema também não foi citado em sua conversa ontem com a secretária de Estado, Condoleezza Rice, ou no encontro de Lula com Bush, este mês, em São Paulo. A Petrobras não comentou o assunto.

Lula recusa convite para dormir em Camp David

A visita do presidente Lula a Camp David só não será maior porque ele próprio não quis, conforme revelou ontem o diretor do Conselho de Segurança Nacional, da Casa Branca, Dan Fisk. Ele contou que Bush convidara Lula para dormir hoje no local, mas Lula lhe disse que tem, amanhã no Brasil, um compromisso impossível de alterar.

Fisk frisou a importância do convite a Lula para ir a Camp David, informando que o brasileiro é o primeiro líder latino-americano a ser recebido ali por Bush:

- Antes dele, só estiveram lá o então presidente Carlos Salinas, do México, em 1991, convidado por Bush pai. E em 1998, esteve em Camp David o presidente Fernando Henrique, convidado por Bill Clinton, mas para uma visita social. A de Lula é visita de trabalho, a primeira desse tipo para um presidente da América Latina neste governo.

Lula chegou à base aérea de Andrews, em Washington, às 21h de ontem, e foi para a Blair House, a casa de hóspedes do governo americano. De lá, vai hoje à tarde de helicóptero para Camp David, onde Bush o aguarda. A reunião deve começar às 14h25m (15h25m no Brasil). Duas horas depois, farão pronunciamento, seguido de entrevista. A conversa continuará ao longo do jantar, que começará às 18h30m (hora local). Depois, Lula embarca de volta ao Brasil.

(*) Enviada especial

(**) Correspondente