Título: Agora, a culpa é do Edileuso
Autor: Doca, Geralda e Alvarez, Regina
Fonte: O Globo, 31/03/2007, Economia, p. 29

Controladores se rebelam por causa da transferência de líder da categoria para Santa Maria

BRASÍLIA. A gota d"água para a paralisação de ontem - a mais grave desde o início da operação-padrão - foi a transferência do diretor de mobilização da Associação Brasileira dos Controladores de Tráfego Aéreo (ABCTA) Edileuso Souza Cavalcante, do Cindacta 1 para Santa Maria (RS) -, e reflete as demandas já conhecidas. A Força Aérea justificou que o sargento foi transferido por necessidade de serviço, mas ele alega que há graduados mais modernos e não seria o da vez.

A mobilização dos controladores de vôo começou na madrugada de ontem pelo Cindacta 2 - responsável pelo tráfego na Região Sul - quando o aeroporto de Curitiba foi fechado. O Cindacta 4 (Manaus) seguiu o exemplo e parou 30 minutos, deixando no solo seis aeronaves, inclusive uma da American Airlines. No início da manhã, a categoria já articulava uma aliança nacional para estender o movimento, com militares e civis pretendendo parar todo o país a partir do meio-dia.

O Centro de Controle do Rio - torre que faz a aproximação dos vôos - foi o primeiro a restringir o tráfego à tarde, seguido por Brasília. Como não conseguiram fechar com a Infraero uma paralisação geral, passaram a fazer restrições periódicas, em diversos horários.

Os controladores, desde novembro passado, nunca estiveram tão unidos - tanto que tentativas anteriores de paralisação (como a ameaça do carnaval) não vingaram. A aliança é tão clara que as associações que representam civis e militares soltaram notas que expressam os mesmos anseios, preocupações e reivindicações, denunciando a precariedade de equipamentos, de condições de trabalho e de salários, a arbitrariedade do comando e a repressão. Também afastam a hipótese de que os controladores tenham participado em alguma sabotagem.

A nota dos controladores civis fala da incapacidade de continuar trabalhando: "Chegamos ao limite da condição humana, não temos condições de continuar prestando este serviço (...) da forma como estamos sendo geridos e como somos tratados. Não confiamos nos nossos equipamentos e não confiamos nos nossos comandos". Segundo o texto, os controladores estariam trabalhando com os "fuzis apontados" para eles e a entidade tinha perdido o controle da "boiada". Diz um trecho dos controladores militares: "Muito pouco foi feito para melhorar a situação do controlador de tráfego aéreo, até o presidente da República declarou que a situação dos controladores já estava resolvida, mas qual foi a solução? Perseguições, afastamentos e transferências arbitrárias, principalmente para representantes de associações, que são legalmente constituídas! (...) Contemos ânimos exaltados e em troca estamos respondendo a um Inquérito Policial Militar (...)".

A mobilização teve reflexos em vários aeroportos. Pelo balanço da Infraero até as 19h, antes da greve, dos 1.460 vôos, 263 tinham atrasos de mais de uma hora. Até as 16h, o percentual de atrasos chegou a 19% em Guarulhos, 25% em Brasília e 19,2% no Tom Jobim. (Geralda Doca)