Título: Ministro da Defesa diz que trabalha em projeto para desmilitarizar setor
Autor: Doca, Geralda e Alvarez, Regina
Fonte: O Globo, 31/03/2007, Economia, p. 29

Waldir Pires afirma que o usuário é `toda a humanidade brasileira¿.

Geralda Doca

BRASÍLIA. O ministro da Defesa, Waldir Pires, afirmou ontem que o governo já está trabalhando num projeto de lei para desmilitarizar o controle do tráfego aéreo e que a proposta deverá ser concluída entre dez e 15 dias. Segundo ele, estão sendo discutidas medidas jurídicas, mudanças na Constituição e novas regras para os controladores civis. Ao alegar que esse tipo de alteração não é simples nem fácil, Pires disse que não há ¿limitação¿ e que o governo está disposto a discutir o assunto sem limitações, pois o usuário deve ser o objetivo principal dessa mudança.

¿ O usuário deve ser o objeto essencial do tráfego aéreo. E o que é o usuário? É toda a humanidade brasileira ¿ disse o ministro. ¿ O Estado Democrático de Direito não pode ficar refém de ninguém, tem que atender, sobretudo, o direito do povo brasileiro, das famílias brasileiras.

Apesar de o presidente Lula ter pedido ¿dia e hora¿ para que a crise fosse solucionada, Pires disse que não é possível fazer esta previsão.

¿ Não é possível fazer nada em 24 horas ¿ disse o ministro, que na tarde de ontem ¿esperava¿ que a paralisação não se confirmasse.

Pires disse que considera legítima a reivindicação dos controladores e reforçou sua posição a favor da desmilitarização ¿ como funciona na maioria dos outros países ¿ mas destacou que é preciso paciência:

¿ São instituições que têm dezenas de anos e uma das coisas graves que não podemos repetir é uma impaciência para solução dos problemas institucionais.

Ele lembrou que o governo criou um grupo de trabalho para ouvir os pleitos dos envolvidos. E que, para fechar a proposta, fará nova rodada com os setores envolvidos. Ele adiantou que a solução passa por medidas para modernizar equipamentos e em recursos humanos.

Pires destacou ainda que respeita os controladores civis e militares e que considera legítima a aspiração da categoria, mas repetiu várias vezes que é preciso compromisso do Estado Democrático. Ele disse que usar a Força não faz parte da sua história, mas ressalvou:

¿ É evidente que se houver alguma coisa gravíssima no sistema de tráfego aéreo, quem é atingido é o povo brasileiro ¿ destacou.

Pires deu a entrevista depois de passar várias horas reunido com autoridades do setor. Ele se exaltou várias vezes e não conseguiu responder às perguntas sobre qual será a solução para resolver os problemas nos aeroportos. Ele confirmou que leu o manifesto dos sindicatos da categoria, mas desconhecia a ameaça de greve de fome. Porém, considerou um direito dos militares o aquartelamento voluntário.