Título: Tudo parado nos céus do país
Autor: Doca, Geralda e Alvarez, Regina
Fonte: O Globo, 31/03/2007, Economia, p. 29

Controladores fazem greve e paralisam aeroportos. Aeronáutica manda prender.

Três dias depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrar dia e hora para o fim da crise aérea, os controladores de vôo decidiram entrar em greve geral, por tempo indeterminado, e paralisaram os principais aeroportos do país, com repercussão em vôos internacionais com destino ao Brasil, que foram cancelados. O Comando da Aeronáutica reagiu também de forma radical: acionou o Ministério Público Militar para prender em flagrante os grevistas por insubordinação, já que eles são militares, estão submetidos a um rígido estatuto e não podem fazer greve. Até as 22h, cerca de 50 controladores militares do Cindacta 1 (sediado em Brasília) já tinham sido presos.

O clima no Comando da Aeronáutica era de guerra, embora o Palácio do Planalto tenha passado uma mensagem mais amena: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mandou a Aeronáutica ¿conversar¿ com os controladores. Lula recebeu notícias por telefone, durante o vôo para Washington, onde se encontrará com o presidente dos EUA, George W. Bush.

As principais autoridades do país e a cúpula do Palácio do Planalto estavam fora de Brasília, viajando. Lula passou a manhã em Olinda e, à tarde, foi para Washington. O vice-presidente, José Alencar, também deixou Brasília para ir a Belo Horizonte. Só às 21h30 o presidente da República em exercício retornava a Brasília.

Responsável pela interlocução entre os ministérios, e encarregada de realizar reuniões com ministros para lhes cobrar ações, Dilma Rousseff, da Casa Civil, tratou, pela manhã, do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), e foi para Porto Alegre. Até mesmo quem deveria dar respostas sobre a crise correu para o aeroporto e viajou ¿ ao contrário dos passageiros comuns. Waldir Pires, da Defesa, partiu às 17h30 para o Rio, logo após dar uma coletiva dizendo que precisaria de 10 a 15 dias para fazer um diagnóstico do setor. O ministro da Justiça, Tarso Genro, também não estava em Brasília.

Numa reunião de emergência, até ministros que não estão ligados diretamente ao caos foram chamados, como Paulo Bernardo, do Planejamento ¿ que depois foi para o Cindacta 1. Além dele, assentavam-se no Planalto o comandante da Aeronáutica, Juniti Saito, o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Jorge Félix, o chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, e o ministro da Comunicação, Franklin Martins. À noite, Pires voltou a Brasília em avião da FAB.

Lula foi contatado no Aerolula e, por telefone, mandou que a Aeronáutica ¿conversasse¿ com os controladores. Enquanto isso, os passageiros amontoavam-se nos aeroportos e as aeronaves continuavam paradas.

A operação dos controladores ¿ que começara, de forma mais amena, de madrugada ¿ foi radicalizado a partir das 19h, no Cindacta 1, que controla 80% do tráfego aéreo. E em poucos minutos foi impedida a decolagem de aviões em Brasília, Rio, São Paulo, Belo Horizonte, Vitória e parte do Centro-Oeste. Segundo a TAM, vôos internacionais estavam sendo desviados para outros países.

A reação do Comando da Aeronáutica veio no início da noite, depois de um encontro de emergência. Foi acionado um plano, que indica ocorrência de grave crise. Todos os controladores militares foram convocados. A decisão de acionar o Ministério Público Militar teve como objetivo dar um caráter de legalidade à ordem de prisão, sem passar a idéia de uso da força. O movimento grevista é visto como um ato de insubordinação inaceitável.

Em entrevista, Pires afirmou considerar legítimas as reivindicações, mas destacou que o governo não iria interferir na hierarquia militar:

¿ Entendo que é uma natural aspiração. Mas, evidentemente, espero que os controladores militares, enquanto militares, estejam atentos às suas responsabilidades.

Foi a senha para o agravamento da crise. Entre os militares, a avaliação é que o agravamento da crise é resultado da falta de pulso do governo.

¿ A transferência do Edileuso transformou-se em um caso de segurança nacional ¿ disse uma fonte da Aeronáutica, sobre o episódio que desencadeou a paralisação.

Na avaliação do Comando da Aeronáutica, a crise é muito grave e o confronto com os controladores de vôo, inevitável. É esta avaliação que motivou a decisão de prender em flagrante, com base no estatuto dos militares, os controlares de vôo que se recusaram a assumir suas funções.

A Aeronáutica acha que a crise não é decorrente da falta de pessoal, mas de um movimento organizado dos controladores, que pressionam pela desmilitarização do setor. A Polícia Federal deixou de prontidão 40 agentes para evitar tumultos em Brasília.

DEFESA TRABALHA POR DESMILITARIZAÇÃO, na página 30