Título: 'Eu só não desafino'
Autor: Lichote, Leonardo
Fonte: O Globo, 01/04/2007, Segundo Caderno, p. 1

Usando os termos ¿mercado¿ e ¿evangelização¿ quase como sinônimos, o padre Marcelo Rossi conta que já previa o sucesso enorme de ¿Minha bênção¿. Agora, planeja ir mais longe, com a construção de um templo gigantesco e um CD/DVD ao vivo com participações de Ivete Sangalo e Xuxa, entre outros. Mas, ressalta, sempre respeitando o ritmo divino. Exatamente como procura fazer em sua música: ¿Nunca fui de heavy metal¿

Como o senhor recebeu a notícia de que ¿Minha bênção¿ foi o disco mais vendido de 2006?

MARCELO ROSSI: Eu sabia que seria um sucesso. Primeiramente, porque eu fiquei anos sem lançar. Estava me armando de maravilhosas canções para ir ao mercado. E evangelizar, claro. No rádio, toco por dia duas músicas enviadas para mim e o povo me diz quais podem ser uma bênção. Então, quando apresentei o CD para a gravadora e meu amigo Schiavo disse que queria começar com 50 mil cópias, falando que ¿o mercado mudou¿, respondi: ¿Estou te entregando um diamante. Pode pôr 150 mil no mínimo¿.

A que o senhor atribui o sucesso?

ROSSI: É um somatório. A saudade do povo, a qualidade das canções. Até o trabalho pela internet (o CD pode ser baixado gratuitamente no site do padre), pois busco evangelizar em todos os meios. E, claro, o rádio e a televisão. A audiência do meu programa no Rio, em São Paulo e em Belo Horizonte é de dois milhões de pessoas por minuto. Mas são 115 praças pelo Brasil! Esse número chega facilmente a 15 milhões. Ainda fui a todos os programas de TV, menos o Faustão e a Ana Maria Braga.

Já prepara um próximo trabalho?

ROSSI: Devo demorar a lançar outro, porque este ainda está vivo ¿ vem aí a Páscoa, a vinda do Papa. E estou envolvido agora com a construção do santuário, um trabalho grandioso, com projeto de Ruy Ohtake e capacidade para 25 mil pessoas dentro e 90 mil do lado de fora. Pretendo inaugurá-lo em 2008.

Até lá, sem novos discos?

ROSSI: Quero fazer um CD e um DVD ao vivo, gravados no novo santuário, com participação de Ivete Sangalo, que faria ¿Erguei as mãos¿, Xuxa, Daniel. Como meu contrato com a Sony BMG acabou, vou conversar com outras gravadoras para ver o melhor. Não para mim, mas para a igreja. Toda a renda dos discos é para ela. Meu sonho é lançar em 2008, mas, como disse Cristo, ¿que não seja feita minha vontade, mas a Tua¿.

O que acha de ter batido Roberto Carlos e Ana Carolina?

ROSSI: Quem sou eu diante desses cantores? Eles interpretam. Eu só não desafino. Mas há uma crise na indústria que afeta mais a eles. Comigo as pessoas sabem que estão ajudando a igreja, preferem comprar o original. Outro dia, ouvi Zezé di Camargo falar: ¿Com o padre não dá para competir, até Jesus comprou o disco dele¿.

Que artistas admira?

ROSSI: Antes de ser padre, gostava de U2, Paralamas, Kid Abelha. Pop-rock em geral, nunca fui de heavy metal. Na MPB, Elis, Roberto Carlos e Chico Buarque como compositor. Mas tem uma música do Chico que não seria jamais capaz de cantar hoje. Seu conteúdo é muito agressivo e considero o palavrão um pecado. Rolling Stones nunca gostei por causa daquela música que fala de ¿simpatia ao diabo¿ (o padre se refere a ¿Sympathy for the devil¿).