Título: Bloco de Esquerda
Autor: Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 01/04/2007, O Globo, p. 2

O PFL vira Democratas, o PSDB procura um rumo e o PT badala a ministra do Turismo, Marta Suplicy. Todas as forças políticas estão se posicionando desde já para as eleições presidenciais de 2010. Essa também é a perspectiva do Bloco de Esquerda, formado por PSB, PCdoB e PDT, que, mesmo apoiando o governo petista, sonha com um vôo próprio na sucessão do presidente Lula.

Os socialistas e os comunistas formam o núcleo duro do bloco. Esses dois partidos decidiram se unir para impedir a hegemonia do PT na esquerda, na medida em que a sobrevivência de ambos estaria ameaçada. Seus dirigentes consideram que os petistas fizeram uma opção pelo PMDB, como ficou demonstrado na aliança para eleger o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) para a presidência da Câmara. Os trabalhistas, cujo projeto é historicamente concorrente ao do PT, que se firmou renegando o getulismo e sua herança, foram integrados ao bloco.

A manutenção dessa aliança depende do avanço dos entendimentos com o PDT, onde muitos se ressentem de uma atuação com identidade própria. Mesmo que essa questão seja contornada, o bloco ainda terá de sobreviver às eleições municipais do ano que vem. Integrantes dos três partidos imaginam lançar candidatos apoiados por esse bloco nas capitais e nos principais centros urbanos do país. A adoção dessa linha afastará os partidos desse bloco do PT, na medida em que haverá enfrentamento direto em muitas eleições. Isso não implicará em rompimento com o governo, mas os deixará liberados para disputar em faixa própria as primeiras eleições presidenciais, nas duas últimas décadas, sem a presença de Lula.

Além da formação do bloco, que garante um tempo considerado bom de propaganda eleitoral no rádio e na televisão, o provável candidato à presidência, deputado Ciro Gomes (PSB-CE), recusou-se a participar do Ministério do segundo mandato. Ciro trata de manter distância regulamentar do governo petista. Isso vai permitir que ele atue para demarcar terreno, criticando aspectos da política econômica, sobretudo no que se refere àqueles elementos que inibem um maior crescimento da economia. Essa guerra de posições ainda não tem data para ser deflagrada. Os governadores do PSB, que querem manter uma boa relação administrativa com o governo Lula, preferem adiar esse confronto para depois das eleições municipais.