Título: Projeto de senador americano defende parceria com Brasil
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 01/04/2007, O País, p. 8

Richard Lugar diz que relação é "uma prioridade estratégica"

WASHINGTON. Curiosamente, foi um produtor de milho ligado à produção de etanol, o senador Richard Lugar, de Indiana, quem na última quarta-feira apresentou um projeto de lei que visa justamente proteger a parceria Brasil-Estados Unidos. Ele definiu o relacionamento entre os dois países como "uma prioridade estratégica para reduzir o potencial de tensão com respeito a recursos energéticos".

Numa clara referência aos governos da Venezuela e da Bolívia, ele ponderou que a aliança Bush-Lula, em relação aos biocombustíveis, precisa ser apoiada:

- Vários países na América Latina agiram de forma a pôr em perigo o império da lei, que é necessário para se investir em todas as fontes de energia que são essenciais à nossa segurança. Outros têm sido incapazes de fazer as reformas necessárias para criar suficiente clima de investimentos para aumentar a produção doméstica de energia ?-disse o senador americano.

Projeto deixa brecha para manutenção de tarifas

No entanto, apesar de mencionar incisivamente a necessidade de a parceria Brasil-Estados Unidos ser protegida, o senador foi menos eloqüente ao se referir às tarifas. Em seu projeto, não determinou o seu banimento. Richard Lugar deixou espaço para a possível manutenção desse tipo de barreira protecionista ao apenas sugerir a realização de um estudo, pelo Departamento de Comércio dos EUA, sobre "os prováveis impactos sobre a economia americana da remoção de todas as taxas e tarifas sobre importações de combustíveis e partir de 1º de janeiro de 2009".

"Bush quer o que o Brasil já conseguiu"

Por isso, a especialista Mendelson-Forman, entre outros observadores, teme pelo futuro da parceria Brasil-EUA.

- O que Bush quer é o que Lula e seus compatriotas já conseguiram: independência energética dos combustíveis fósseis. Bush quer hoje o que o Brasil levou trinta anos para conseguir. A viabilidade disso será determinada pelos interesses especiais no Congresso. Ou seja, pelos mesmos grupos que tornaram a política agrícola americana bizantina em sua complexidade - disse ela.

Em artigo publicado ontem no Washington Post, Lula deixou claro que o tema, de fato, ameaça a relação entre os dois países. No artigo, Lula diz que a transformação do etanol e do biodiesel em produtos comercializáveis no mundo só ocorrerá "se o comércio dos biocombustíveis não for prejudicado por políticas protecionistas", num recado aos EUA. (José Meirelles Passos)

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