Título: Protecionismo ameaça relação com os EUA
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 01/04/2007, O País, p. 8

Especialista diz que Bush precisará acabar com tarifas de importação para etanol ou porá em risco parceria com Brasil.

WASHINGTON. Até que ponto a parceria do Brasil com os Estados Unidos no etanol sobreviverá à manutenção dos subsídios - 51 centavos de dólar por galão (3,8 litros) - dados pelo governo americano aos produtores ianques de milho, e à tarifa de 54 centavos de dólar por galão, na importação do produto brasileiro? O governo Lula, ansioso por estreitar as relações comerciais com os Estados Unidos, evita tocar no assunto diretamente. Na tarde de sexta-feira, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, adiantou que esse protecionismo não será discutido hoje pelos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e George W. Bush, em Camp David, recanto presidencial de repouso de verão.

Amorim disse, ainda, que só o êxito total das negociações da rodada de Doha, da Organização Mundial de Comércio (OMC), conseguirá retirar os subsídios de cena. Ainda assim, permaneceriam as tarifas. Pela legislação atual, elas serão cobradas até dezembro de 2008 e podem ser renovadas em janeiro de 2009. Não há garantias de que sejam definitivamente deixadas de lado.

Johanna Mendelson-Forman, especialista em energia e segurança do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS, na sigla em inglês), de Washington, acha que o futuro da parceria Bush-Lula está em mãos de "interesses especiais no Congresso". Por isso, ela aconselha Bush a começar a agir imediatamente contra esse lobby poderoso:

- Essa iniciativa, infelizmente, pode ser bloqueada pelo entrincheirado lobby dos agricultores americanos, que teme que o etanol brasileiro desbanque o nosso equivalente feito de milho. A parceria depende de os Estados Unidos darem à Lula o que ele realmente quer: o fim da tarifa de importação do etanol.

Segundo a pesquisadora, esse tipo de bloqueio ao produto brasileiro apenas adia o inevitável "e põe em perigo uma nova e poderosa aliança energética que os EUA precisam adotar":

- Seria lamentável se o presidente Bush, que mais do que nunca necessita de amigos e aliados regionais, desperdiçasse essa oportunidade de consolidar a parceria EUA-Brasil, tirando da mesa a tarifa sobre o etanol - diz ela.