Título: Companheiros tristes com opção por ex-desafetos
Autor: Camarotti, Gerson e Lima, Maria
Fonte: O Globo, 01/04/2007, O País, p. 10

Curingas, como Jorge Viana, acabam sem cargos no Ministério

BRASÍLIA. Ao longo dos últimos cinco meses o presidente Luiz Inácio Lula da Silva alimentou a fantasia de inúmeros ministeriáveis. Mas, ao fim do mais longo processo de definição do novo Ministério, optou por ex-desafetos ou jogou ao chão os sonhos de muitos companheiros rejeitados. Curingas, como o ex-governador do Acre Jorge Viana, acabaram sem cargos no primeiro escalão.

Além de Viana - cotado para as pastas de Relações Institucionais, Defesa e Meio Ambiente - outros do PT ficaram pelo caminho: Renato Simões, Geraldo Magela (PT-DF), Walter Pinheiro(PT-BA), Iriny Lopes (PT-ES), Henrique Fontana (PT-RS), Luis Eduardo Greenhalgh e Sigmaringa Seixas.

Alguns dos preteridos procuram retomar sua rotina. Outros ainda lutam para serem aproveitados no segundo escalão. A rejeição deixou mágoas profundas, que podem criar seqüelas daqui para a frente.

Ainda um interlocutor freqüente de Lula, Jorge Viana disse que está entre os que brigaram para ficar fora do governo, ajudando a ministra do Meio Ambiente Marina Silva, o irmão Tião Viana (PT-AC), vice-presidente do Senado, e o governo. Ainda cotado para a Defesa, Viana disse que Lula teve muito cuidado para não melindrá-lo:

- Meu lugar certo, onde estou muito bem acomodado, é o banco de reservas. Quem tem compromisso com um projeto, tem de estar disposto a ajudar mesmo fora do governo.

"Pode ter sido a mão de Deus que me livrou de algo pior"

Além do deputado ruralista Odílio Balbinotti (PMDB-PR), indicado para a Agricultura e abatido em pleno vôo pelo processo que responde no STF, outro peemedebista cotado para a pasta, o também deputado ruralista Waldemir Moka (MS), tinha o apoio da bancada e alimentou a esperança de ser ministro, mesmo tendo feito campanha para Geraldo Alckmin.

- O fato de não ter virado ministro não muda minha vida. Não vou mudar minha biografia por causa de um cargo. Não me sinto rejeitado ou preterido - diz Moka.

Quando seu nome era dado como quase certo para o Ministério do Desenvolvimento Agrário, o deputado Walter Pinheiro (PT-BA), se dedicou a estudar os assuntos da pasta e era chamado de ministro pelos companheiros. O petista foi vetado por Lula, que não engoliu as críticas feitas pelo companheiro baiano no auge da crise política. Mas Lula perdoou nomes do PMDB que lhe fizeram oposição vigorosa como o também baiano Geddel Vieira Lima. Pinheiro não esconde a mágoa por Lula ter perdoado Geddel, e ele não.

- O presidente disse que governaria olhando para a frente. Tem critérios para uns e não para outros? Se não virei ministro, pode ter sido a mão de Deus que me livrou de algo pior lá na frente. (G.C. e M.L.)