Título: Pressão de aliados por cargos recai sobre Lula
Autor: Camarotti, Gerson e Lima, Maria
Fonte: O Globo, 01/04/2007, O País, p. 10

Padrinhos políticos influentes levam seus pedidos diretamente ao presidente, de olho em postos de segundo escalão com comando de orçamentos milionários.

BRASÍLIA. O Palácio do Planalto está em alerta com a disputa entre os aliados pelos cargos do segundo escalão. O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva confidenciou nos últimos dias saber que a briga será mais problemática do que foi a reforma ministerial. Agora, os padrinhos políticos, com o apetite mais aguçado que nunca, passaram a pressioná-lo pessoalmente. O Planalto está sendo chantageado de forma aberta pelos aliados, que nos últimos dias passaram a condicionar as votações das medidas do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) às nomeações de seus afilhados para poderosos cargos em comandos de estatais e órgãos estratégicos.

Lula tenta resistir às pressões com a mesma tática que usou na composição do primeiro escalão: não tem pressa nas trocas. O problema é que entra em campo um novo time, que divide o poder no governo de coalizão.

Entre os padrinhos políticos com maior influência estão os governadores Blairo Maggi (PR-MT), Sérgio Cabral (PMDB-RJ), e Jaques Wagner (PT-BA); os deputados Jader Barbalho (PMDB-PA), Michel Temer (PMDB-SP), Ciro Gomes (PSB-CE) e Arlindo Chinaglia (PT-SP); e os senadores José Sarney (PMDB-AP) e Renan Calheiros (PMDB-AL). Até o deputado cassado José Dirceu (PT-SP) tenta manter os seus indicados no segundo escalão.

Mares Guia avisa que nomeações terão critérios

O lobby dos aliados visa a cargos poderosos, com orçamentos bilionários, como postos em diretorias e vice-presidências dos bancos oficiais e comandos de estatais como Petrobras, Eletrobrás, Eletronorte, Conab (Agricultura) e Dnit (Transportes).

Preocupado com o jogo político dos partidos da base, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, se antecipou, semana passada, e confirmou nos cargos os presidentes dos bancos oficiais e deixou clara a sua posição de manter, também, os diretores. Mas já foi informado que terá que ceder a pressões políticas. Para diminuir o risco de nomeações polêmicas e com o intuito de criar algumas dificuldades, o Planalto criou critérios para nomeações.

- O fato de um padrinho político indicar não significa que a nomeação será automática. É preciso critérios para que os partidos ocupem cargos no governo, éticos e técnicos - alertou o ministro das Relações Institucionais, Walfrido Mares Guia.

Jader entregou nomes de afilhados ao presidente

O PT resiste a abrir mão dos cargos que ocupa majoritariamente no segundo escalão. Lula escalou a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, para enfrentar o próprio partido, já que Mares Guia não teria autonomia suficiente para enquadrar os petistas.

Um exemplo claro está acontecendo no Ministério da Integração Nacional. O PMDB quer cargos no DNOCS (obras contra a seca) que estão com o PT para entregar a um afilhado do líder do partido, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). O PT resiste. O PMDB também quer controlar a poderosa Codevasf, a secretaria especial do Centro-Oeste e os comandos da Sudam e da Sudene.

- Não tenho problema com indicação política. Agora, eu vou demitir qualquer um que não cumprir as diretrizes do governo - diz o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima.

Jader Barbalho diz que não quer muita coisa, mas admitiu ter driblado os intermediários e entregou pessoalmente a Lula o nome do sobrinho, o ex-deputado José Priante (PA) para a presidência da Funasa, que administra todas as emendas orçamentárias da área de saúde. Mas não levou.

Jader também indicou o ex-senador Luiz Octávio (PA) para a Eletronorte. Sem sucesso. Otávio foi acusado de desvio de recursos e teve o nome rejeitado pelo Congresso para uma vaga no TCU.

- No encontro com Lula eu coloquei o nome do Priante para a Funasa. O presidente registrou e disse que ia nomear. Priante foi nosso candidato a governador no Pará e ajudou a eleição da Ana Júlia, como Geddel ajudou Jaques Wagner na Bahia. Não chegamos nem a pedir um ministério, como fez o Geddel! - disse Jader.

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