Título: Economista que denunciou corrupção no Congresso ainda enfrenta dois processos
Autor: Peña, Bernardo de la
Fonte: O Globo, 01/04/2007, O País, p. 15

Quase 14 anos depois, José Carlos só cumpriu pena por matar a mulher.

Bernardo de la Peña

BRASÍLIA. Quase 14 anos depois de ter feito as revelações que viraram o Congresso de cabeça para baixo, o economista José Carlos Alves dos Santos - que denunciou o esquema de desvio de recursos e pagamento de propinas a parlamentares na Comissão Mista de Orçamento, e chocou o país com a revelação de que tinha mandado matar a própria mulher e escondido o corpo - leva uma vida bem diferente. Hoje, é um administrador de imóveis que trabalha em Brasília, no escritório dos advogados que o defendem em processos ainda pendentes por improbidade administrativa e corrupção passiva.

O economista reconstruiu a vida atuando em tarefas repassadas por seus advogados. Casado há cinco anos com a advogada Crislene, quase 30 anos mais nova que ele, José Carlos ganhou experiência no ramo imobiliário, em parte por causa da condenação pelo homicídio e pela ocultação do cadáver da primeira mulher, Ana Elizabeth Lofrano. De quando saiu da cadeia até 2004, José Carlos trabalhou na imobiliária do advogado Joaquim Flávio, seu defensor no júri popular que o condenou a 20 anos de prisão. Segundo Flávio, o economista trabalhou com ele, como corretor, "por cinco ou seis anos".

- Ele tinha sido condenado, recorremos e conseguimos reduzir a pena. Mas quando ele foi a júri, já estava preso havia quase cinco anos. Com a redução da pena, ele pôde ser beneficiado pela progressão do regime de prisão para o semi-aberto. Mas, para conseguir isso, precisava estar empregado. Eu dei o emprego e ele ficou trabalhando aqui, com todas as restrições, até cumprir a pena. Com relação àquele homicídio, ele já pagou - disse o advogado.

Amigo de José Carlos e seu advogado nos dois processos a que ainda responde, Adahil Pereira da Silva enxerga um paradoxo na história do economista. Para ele, existem dois capítulos na história de José Carlos. Um relativo à morte de Ana Elizabeth e outro sobre a delação de crimes cometidos por parlamentares, no depoimento na Comissão de Orçamento. Os efeitos do primeiro estão restritos ao economista, que foi condenado pelo homicídio e pagou a pena. Já os efeitos da delação, diz o advogado, foram irradiados para diversas pessoas, o que levou à abertura de diversos processos.

- Mas muitos processos não foram julgados, pois os crimes foram prescritos. Ele (José Carlos) revelou fatos criminosos contra pessoas e deixou rastros que levaram a outras pessoas, e o Estado não aproveitou isso - lamenta o advogado.

Além do processo por homicídio, o economista foi condenado, em junho de 2003, na 10ª Vara Federal de Brasília, a dez anos e oito meses de prisão, mas os advogados estão recorrendo da sentença. Eles não negam que José Carlos tenha recebido os US$2 milhões apreendidos pela Polícia Federal em seu poder.

O economista não vive mais na confortável casa em que morava, no Lago Norte, em Brasília, mas numa outra no mesmo bairro, que pertence à família da atual mulher. De acordo com amigos, leva uma vida simples e freqüenta uma igreja evangélica. Trabalha diariamente, de 9h às 17h, no escritório de seus advogados. Lá, além de exercer a atividade de administrador de imóveis, ajuda nas tarefas do escritório. Ele se nega a dar entrevista.