Título: Novos tempos
Autor: Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 02/04/2007, O Globo, p. 2

A volta ao trabalho dos controladores de vôo não é motivo apenas de alívio no governo. Há também receio com a repercussão, entre os militares, da forma usada pelo governo para negociar com os grevistas. O Ministério da Defesa e a Aeronáutica foram afastados do processo e do acordo firmado pelo ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. Fossem outros tempos e a crise era certa.

O acordo firmado com o governo não se limitou a atender às reivindicações salariais e funcionais dos controladores, mas implicou na anulação de punições e atos administrativos feitos pelo Comando da Aeronáutica. A nota da Força, divulgada no sábado, revela que não será tranqüila a implementação dos termos do acordo. Seus termos são bastante claros: "O Alto Comando da Aeronáutica, diante da gravidade da atitude adotada pelos controladores, destaca a importância da manutenção dos princípios basilares da hierarquia e da disciplina e reafirma a coesão da Força Aérea sob a autoridade de seu comandante".

Um dos ministros do governo Lula reconhecia ontem que existe uma crise de autoridade e que o mal-estar só não é maior porque os militares não têm, neste momento, força política. Justamente por causa da questão da hierarquia, esse ministro diz que o episódio não está encerrado. O líder do governo na Câmara, José Múcio (PTB-PE), admite que a Aeronáutica pode não ter gostado do desfecho que se pretende dar ao movimento dos controladores de vôo, mas afirma que o governo não poderia agir de outra forma diante da gravidade que a crise aérea assumiu em seis meses.

- Ficou claro que a questão central não é tecnológica nem de equipamentos, mas de gestão dos controladores de vôo. Virou um problema de segurança nacional que requeria uma solução e, nesse caso, o governo não poderia ficar refém do que eles (militares) acham ou não - diz Múcio.

Ainda nesta semana, o governo vai anunciar várias medidas para o setor. Entre elas, a desmilitarização da atividade, com a criação de um órgão civil responsável pelo controle aéreo. Com o fim da greve dos controladores e as mudanças no setor, o governo espera afastar o fantasma de um novo caos nos feriados da Semana Santa, quando milhares de brasileiros costumam se deslocar de avião dentro do país e para o exterior.

Primeira impressão sobre as votações e os debates no Congresso do deputado de primeiro mandato Marcelo Serafim (PSB-AM): "Estou achando tudo muito improdutivo".

Tucanos procuram candidato ideal

Um grupo de tucanos já começou a trabalhar tendo em vista pacificar o partido para as eleições presidenciais de 2010. Eles querem evitar um embate desgastante entre os governadores José Serra (SP) e Aécio Neves (MG). Consideram que a chapa ideal é com Aécio Neves candidato à Presidência da República e José Serra disputando a reeleição em São Paulo.

Esses tucanos, que se articulam também com dirigentes do Democratas e do PPS, só não sabem ainda como vão convencer José Serra a sair da frente. Com base no resultado das últimas eleições, esses tucanos dizem que há um forte sentimento antipaulista na política brasileira e que, por isso, precisam de um candidato capaz de romper a força eleitoral que o PT construiu no Nordeste. Alegam ainda que Aécio Neves traria consigo cerca de 75% dos votos de Minas Gerais, o segundo maior colégio eleitoral. Avaliam ainda que o partido precisa de um candidato capaz de atrair parcela do PMDB. Desta vez, Aécio quer a candidatura, e já está articulando.

Collor novamente

Os petistas querem que o PTB derrube o ex-deputado Roberto Jefferson da presidência do partido. Dizem que, se os governistas não fizerem isso, estarão ajudando a viabilizar a candidatura do senador Fernando Collor (PTB-AL) à Presidência da República. Desconfiam que Jefferson adotará uma posição moderada diante do governo Lula, para não correr o risco de enfrentar uma luta interna pelo controle do PTB.

A OPOSIÇÃO não abre mão da CPI do Apagão Aéreo, mesmo que o governo tenha feito um acordo com os controladores de vôo para que o sistema aéreo volte à normalidade. O vice-líder da Minoria, deputado Otávio Leite (PSDB-RJ), diz que "a CPI é uma questão de responsabilidade diante de um setor que não funciona bem e que afeta milhares de brasileiros".

MINISTROS que tocam obras de infra-estrutura foram chamados para uma reunião na quinta-feira com o presidente Lula e a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. O presidente quer agilizar as obras, sobretudo as do Programa de Aceleração do Crescimento.

E-mail para esta coluna: ilimar@bsb.oglobo.com.br

Aliança

Os líderes do PR, do PP e do PTB têm conversado muito nas últimas semanas. Estão preocupados com o tamanho e a força do PMDB, na hora de o governo decidir as nomeações para o segundo escalão e para os cargos federais nos estados. Definiram que vão atuar em conjunto para preservar seus cargos, pois do contrário avaliam que podem perder espaço até mesmo para o Bloco de Esquerda (PSB-PDT-PCdoB).