Título: Motim atiça CPI do Apagão Aéreo
Autor: Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 02/04/2007, O País, p. 3

Paralisação de aeroportos e decisão de Lula de não punir controladores dá fôlego à oposição.

Omotim promovido pelos controladores de vôo e a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de desautorizar o Comando da Aeronáutica darão mais gás para a oposição insistir na instalação da CPI do Apagão Aéreo no Congresso. Os líderes afirmam que esses últimos episódios tornam irreversível a criação da comissão.

Antônio Carlos Pannunzio, líder do PSDB na Câmara, disse ontem que o governo transformou uma crise setorial numa crise de governo.

- Houve total inabilidade e inoperância do governo, que transformou esse problema nos aeroportos numa tremenda crise política. Um motim de militares é algo muito grave. Houve quebra de hierarquia e indica ministros não afeitos à área para tratar do assunto - afirmou.

O deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA) disse acreditar na sensibilidade dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) para que decidam pela instalação da CPI. O ministro Celso de Mello concedeu liminar, na semana passada, autorizando a criação da comissão, mas ressalvou que a decisão final é do plenário do tribunal.

- O STF é sensível aos problemas nacionais. Fica claro que o governo não tem autoridade - disse Aleluia, acrescentando que a situação do comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, ficou insustentável pelo fato de Lula ter desautorizado a força, ao determinar que nenhum dos líderes do motim fosse preso. - A autoridade militar foi desgastada. Há muito tempo não se via isso na República. Sabemos que isso atinge todo o meio militar. O clima é o pior possível. Ele deveria deixar o comando. Deveria pedir o boné.

O governo vai tentar barrar o novo esforço da oposição para emplacar a CPI. Para isso, vai usar como argumento exatamente o último episódio da crise aérea, que paralisou os aeroportos, depois da greve dos controladores. O líder do governo na Câmara, deputado José Múcio Monteiro (PTB-PE), afirmou que o motim explicitou o real motivo do problema. E por isso mesmo, pelo argumento palaciano, a CPI do Apagão Aéreo perde o sentido de sua criação.

- A CPI fica esvaziada porque o problema do caos aéreo já foi detectado. O que há de fato é uma insatisfação dos controladores. Eles explicitaram o que estava acontecendo nos aeroportos. Não há problema de computador ou qualquer outro tipo de causa para a crise aérea. Agora, temos que resolver o problema. E isso não tem nada a ver com CPI - disse José Múcio.

Para o presidente nacional dos Democratas, Rodrigo Maia (RJ), a crise não acabou. Maia avalia como muito grave a atitude de Lula ao intervir em questões internas das Forças Armadas.

- Além de mostrar que o apagão aéreo é resultado da incompetência do governo Lula, a crise vem se agravando de forma acelerada. A responsabilidade é única e exclusivamente do governo incompetente de Lula - disse.

Maia afirmou que a crise do último fim de semana prejudicou cerca de 200 mil pessoas.

- E o Lula ficou sabendo do caos aéreo no país enquanto voava para Washington no AeroLula, único avião brasileiro que decola e pousa no horário.

Oposição avalia ida de deputados ao STF

Os partidos de oposição estudam a possibilidade de visitar os ministros do STF e até pedir a antecipação do julgamento da ação que pode determinar a instalação imediata da CPI, previsto para o fim de abril.

O líder do PSDB disse que a situação do ministro da Defesa, Waldir Pires, também fica delicada e ele deveria deixar a pasta.

- No plano pessoal, tenho apreço profundo pelo Waldir Pires, mas, como ministro da Defesa, está se mostrando despreparado. Não é um homem talhado para o cargo e deu sobejas provas disso - disse Antônio Carlos Pannunzio.

Um dos autores do mandado de segurança que pode garantir a criação da comissão, o deputado Otávio Leite (PSDB-RJ) negou que a CPI tenha cunho político, com objetivo de desestabilizar o governo:

- Será uma CPI técnica. Não se trata de revanchismo eleitoral, mas da triste crônica de uma morte anunciada. Terá holofote apenas no início.

COLABOROU Gerson Camarotti