Título: Campo Majoritário do PT admite erros que levaram ao mensalão
Autor: Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 02/04/2007, O País, p. 4

Grupo que comanda partido critica alianças em tese para congresso da legenda.

BRASÍLIA. Grupo que comanda o PT e que ocupa os principais cargos no governo, o Campo Majoritário admite que a aliança com os partidos aliados - como PL (hoje PR), PP e PTB - que levou ao escândalo do mensalão, em 2005, foi marcada por "interesses em cargos, emendas orçamentárias e financiamento de campanhas eleitorais". O PT reconhece também que ficou refém desses partidos, que continuam aliados de Lula no segundo mandato.

Essas e outra conclusões constam do documento "Construindo um novo Brasil", tese do Campo Majoritário para o 3º Congresso do PT, a ser realizado em agosto.

Em vários trechos, o PT reconhece que cometeu sérios equívocos, como na consolidação da base de sustentação do governo. "Optamos por alianças congressuais com pequenos partidos, de ampla diversidade ideológica e forte heterogeneidade. Além disso, os fundamentos dessas alianças se davam em bases tradicionais, sem a referência de um programa mínimo, como feito agora, e muito marcadas por interesses em cargos, emendas orçamentárias e apoio ao financiamento de campanhas eleitorais", admitem os petistas no texto.

O documento do Campo Majoritário é assinado por várias autoridades do governo, como os ministros Paulo Bernardo (Planejamento), Luiz Dulci (Secretaria da Presidência da República) e Luiz Marinho (Previdência), além do assessor especial Marco Aurélio Garcia. O texto tem a assinatura de 27 deputados federais, entre eles a de Ricardo Berzoini, presidente da legenda, e a adesão do governador do Piauí, Wellington Dias.

Os petistas do Campo Majoritário citam como outro erro ter dado ao PT a responsabilidade de compor politicamente o governo, preenchendo com outros partidos os cargos da administração pública. "A responsabilidade pela composição política de um governo deve ser do próprio governo, pois nem sempre os interesses do partido coincidem com os da administração".

"Esforço temerário de buscar recursos"

Os integrantes da tendência avaliam que o PT se distanciou de suas bases e, por isso, abriu fissuras na relação com os movimentos sociais. O Campo Majoritário, agora, critica o partido por ter tentado eleger, a qualquer custo, muitos prefeitos em 2004. "O PT errou ao envolver-se com o financiamento de campanhas de aliados e assumir riscos graves em relação às finanças do partido. Um ambicioso projeto de poder político para as eleições de 2004, que incluía a tentativa de eleger centenas de prefeitos em todo o país, contribuiu para o esforço temerário de buscar recursos de forma diferente daquela que o partido tradicionalmente utilizou".

São 13 as teses apresentadas ao congresso do PT. O documento da Democracia Socialista (DS), tendência mais à esquerda, condena, por exemplo, a anistia para políticos envolvidos em escândalos, numa crítica indireta às pretensões do ex-ministro José Dirceu. Entre os signatários desse documento está o ministro da Justiça, Tarso Genro, desafeto de Dirceu no PT.

"Se não aceitamos a máxima de que o número de votos conferido a um político acusado de corrupção o anistia dos erros cometidos, não podemos aplicar esse preceito dentro do PT", diz o texto da DS, também assinado pelos governadores Marcelo Déda (Sergipe) e Ana Júlia Carepa (Pará). A DS sugere a criação de uma corregedoria no partido, para acompanhar e fiscalizar mandatos dos deputados. O grupo Movimento PT acusa o Campo Majoritário de ser o responsável pela crise que atingiu o partido em 2005.

Os grupos defendem ainda a "democratização dos meios de comunicação" e a abertura dos arquivos da ditadura.