Título: Pacto social
Autor: Farias, Lindberg
Fonte: O Globo, 02/04/2007, Opinião, p. 7

Durante muito tempo, uma geração inteira acreditou que o Brasil somente se tornaria uma nação mais desenvolvida e menos desigual através de uma revolução. Hoje, vemos que o país precisa de uma revolução, sim, mas pela Educação.

O exame nacional aplicado pelo Ministério da Educação (MEC) nas escolas municipais de todo o Brasil, que servirá de base para a composição do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, mostra que a qualidade do ensino brasileiro está a anos-luz do padrão mínimo desejado.

A avaliação do MEC, no Estado do Rio, feita com 269 mil alunos de 60 municípios, evidenciou um desempenho crítico dos estudantes de 4ª e 8ªsérie em português e matemática. No país, a Prova Brasil mensurou o conhecimento de 3,3 milhões de alunos, e o resultado geral indica graves problemas de alfabetização.

Desde 2005, o município de Nova Iguaçu vem implementando o programa Bairro-Escola, um projeto educacional que consegue manter as crianças em período integral na escola a um custo relativamente baixo, porque inclui nele o seu maior diferencial: a sociedade. O Bairro-Escola está dando tão certo que foi copiado por cidades como Belo Horizonte.

O projeto funciona porque é baseado no conceito da precariedade, realidade comum à maioria dos municípios brasileiros. Se a escola não dispõe de piscina, mas existe um clube próximo que tem, e o aparelho é subutilizado durante a semana, por que não usá-lo para as crianças da rede pública? E por que não fazer o mesmo com a sala da Igreja, que pode servir para aulas de reforço; ou com o forno da padaria ocioso, transformado em instrumento de profissionalização de nossos jovens?

Os parceiros não apenas viabilizam financeiramente o programa, num município que não teria condições de construir e manter novas instalações, como se tornam também o seu grande diferencial. O Bairro-Escola incentiva a sociedade a participar do processo educativo, de modo que todos se sintam co-responsáveis.

O projeto já está em 30 escolas e 20 bairros de Nova Iguaçu, proporcionando a 23 mil crianças e jovens, de 5 a 18 anos, um turno a mais de ensino. A ambição de se transformar numa cidade-escola, em plena Baixada Fluminense, que para muitos parecia ser uma pretensão descabida, mostra que, com ousadia e um bocado de persistência, um sonho pode se tornar, sim, realidade.

LINDBERG FARIAS é prefeito de Nova Iguaçu.