Título: Slim, da Claro, faz oferta pela Telecom Italia
Autor: Sampaio, Nadja
Fonte: O Globo, 02/04/2007, Economia, p. 17

América Móvil quer um terço da controladora da TIM. Outro um terço seria da AT&T, em negócio de US$6,4 bi.

MILÃO, RIO e BRASÍLIA. A América Móvil - grupo do magnata mexicano Carlos Slim que, no Brasil, é dono da Claro - anunciou ontem que está em negociações exclusivas para comprar um terço das ações da Olimpia, empresa que controla a Telecom Italia, presente no mercado brasileiro por meio da TIM. A americana AT&T fez uma oferta para adquirir outros 33% da Olimpia. Com base no valor de mercado da Telecom Italia, a proposta seria de US$6,4 bilhões - US$3,2 bilhões para cada um terço da companhia que está sendo negociado.

Na prática, se o acordo for fechado, a América Móvil e a AT&T terão o controle da Telecom Italia. A Olimpia detém 18% das ações da telefônica italiana, porém controla o conselho administrativo da empresa. No Brasil, a Claro e a TIM, que juntas respondem por metade do mercado de telefonia celular do país, passariam assim a ter praticamente o mesmo dono.

América Móvil já manifestara intenção de comprar a TIM

A aquisição da TIM daria à Claro a escala necessária para competir com a Vivo, que detém 28,56% do mercado de celulares no Brasil. Desde dezembro, a América Móvil, que é a maior operadora de telefonia celular da América Latina, já manifestara sua intenção de comprar a TIM. Mas, ontem, a porta-voz da empresa mexicana, Patricia Ramirez, quando perguntada se o acordo anunciado ontem ajudaria a companhia a assumir as operações brasileiras da Telecom Italia, respondeu que a transação "não teria implicações para a venda de ativos".

- Isso (o acordo) vai permitir às três companhias (Telecom Italia, América Móvil e AT&T) trocarem experiências de sucesso. Há um grande potencial de cooperação - afirmou Ramirez.

Ela garantiu que a oferta da América Móvil será conduzida de forma independente da proposta feita pela AT&T. Mas a empresa americana disse, em um comunicado, que a compra de um terço da Telecom Italia só seria levada adiante se a telefônica italiana aceitasse também a proposta da América Móvil.

A Telecom Italia tem hoje 24 milhões de linhas fixas, 57,9 milhões de celulares e 8,6 milhões de assinantes de internet em banda larga.

O acordo de negociação exclusiva prevê que a operação seja fechada até o dia 30 de abril. A transação estará sujeita à aprovação dos órgãos de regulação. A oferta dos americanos da AT&T e dos mexicanos da América Móvil foi feita à Pirelli, empresa que tem 80% das ações da Olimpia, a controladora da Telecom Italia.

No comunicado enviado à bolsa de valores italiana, a Pirelli informou que a proposta de compra é de US$3,77 por ação, descontando a dívida da Olimpia, cujo valor não foi revelado. Se o acordo for fechado, a Olimpia ficaria dividida em partes iguais entre AT&T, América Móvil e o grupo formado pelos atuais proprietários, Pirelli e Sintonia (que hoje têm 80% e 20% da empresa, respectivamente).

Desde o ano passado, quando registrou prejuízo nas suas operações com a Telecom Italia, a Pirelli buscava novos parceiros, mas tentava não abrir mão do controle da empresa e dava prioridade a investidores italianos, principalmente bancos. O quadro mudou no último dia 12, quando o conselho de administração da Pirelli autorizou a empresa a "explorar todas as opções possíveis", dando sinal verde aos investidores estrangeiros.

O ministro das Comunicações da Itália, Paolo Gentiloni"s, disse só ter tomado conhecimento das negociações na tarde de ontem e demonstrou "grande preocupação". Segundo ele, "o governo vai acompanhar de perto" as negociações.

O porta-voz da AT&T, Michael Coe, disse que o negócio será importante para a companhia expandir suas operações internacionais:

- Somos uma companhia global agora. Será muito importante para nossos clientes que tenhamos bons ativos e relações fortes em todo o mundo - afirmou.

Um analista de mercado observa que existe um desdobramento político importante nesta transação, pois a Telecom Italia é uma das maiores empresas italianas e detém um grande mercado em outros países europeus.

- Dentro da lógica americana da Nafta, área de livre comércio entre Estados Unidos, Canadá e México, esta é uma forma de os americanos entrarem no mercado europeu, onde eles ainda são fracos - afirma a fonte.

No Brasil, se o negócio for mesmo fechado, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) terá que analisar a superposição de licenças: nos lugares onde a TIM e a Claro atuam, o controlador terá que escolher qual das duas empresas ficará com a área.

A Claro e a TIM, no Brasil, preferiram não se pronunciar sobre o negócio de seus controladores.

* Com Bloomberg News