Título: A renovação das Malvinas
Autor: Liotti, Jorge
Fonte: O Globo, 02/04/2007, O Mundo, p. 20

Guerra levou ao desenvolvimento posterior das ilhas, que ainda buscam uma identidade.

Sempre digo que deveríamos fazer um monumento a Galtieri". A frase, irônica, é de Richard Cockwell, membro do Conselho Legislativo das Malvinas. Não busca provocar, mas ressaltar o efeito decisivo que teve a guerra, deflagrada exatamente 25 atrás, no rumo da história das ilhas.

Assim como na Argentina o conflito iniciou o fim do governo militar, para as ilhas foi uma refundação.

Quando os argentinos desembarcaram, havia só 68 soldados britânicos nas ilhas. Hoje há a grande base militar de Mount Pleasant, com 1.800 militares, cuja manutenção exige de Londres US$270 milhões por ano.

A guerra também representou para as ilhas o ponto de partida de uma nova etapa de desenvolvimento econômico. Antes do conflito o produto interno bruto era de US$8,7 milhões, hoje é de US$145 milhões.

- Em 1982 havia sombras escuras sobre a situação e o futuro das ilhas. A guerra contribuiu para concentrar o foco nelas - disse Chris Simpkins, chefe do Executivo local.

Para ele, o Reino Unido tem uma "imagem meio turva das Falklands":

- Por exemplo: o mito equivocado de que as ilhas são pobres e incapazes de se sustentar.

A renda per capita dos moradores é hoje de quase US$60 mil, uma das mais altas do mundo e muito superior à do Reino Unido, de US$37,6 mil.

Hoje, a pesca nas 200 milhas territoriais - só exigidas pelo Reino Unido depois da guerra - é uma grande fonte de recursos. Há também um trabalho de prospecção de petróleo.

Pleito argentino sem sentido para ilhéus

O conjunto de mudanças desde a guerra também aumentou o debate sobre a identidade dos ilhéus.

- Nos últimos 25 anos logramos definir com clareza o que não queremos ser: argentinos. Mas ainda não conseguimos precisar o que queremos ser - diz o jornalista John Fowler.

Os habitantes estão divididos em setores que se recusam até a conversar com um argentino, e os que aceitam o diálogo. Para os dois grupos, o pleito argentino é algo sem sentido.

- Este lugar pertence a seus habitantes, aqui há sete gerações e que construíram tudo - afirma Fowler .

Hoje, dos três mil habitantes há pessoas de 62 nacionalidades. As duas maiores comunidades não britânicas são de ex-moradores da ilha de Santa Helena e chilenos.

*O "La Nación" é parte do Grupo de Diários América.

Com o "New York Times"