Título: 'Não há política de ministro'
Autor: Damé, Luiza e Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 03/04/2007, O País, p. 3

Ao reunir o novo Ministério, Lula proíbe críticas públicas e pastas de "porteira fechada".

Na primeira reunião de seu segundo mandato com o novo Ministério, que demorou cinco meses para montar, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva proibiu os ministros de trocarem críticas pela imprensa, demonstrou preocupação com declarações que envolvam questões diplomáticas e disse que "não há política de ministro, mas de governo". Sugeriu ainda que não haverá ministério de "porteira fechada" - expressão que indica que o ministro titular indicará os principais cargos da pasta - porque o governo é de coalizão, e os ministros devem preencher os cargos com indicações de outros partidos.

Ao novo ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia (PTB), que deixou o Turismo para cuidar da articulação política, coube fazer a cobrança de que os colegas são co-responsáveis na tarefa de garantir a boa relação do governo com o Congresso. E também condições de governabilidade - dando a entender, inclusive, que os ministros devem trabalhar junto a suas bancadas partidárias no Congresso para evitar problemas, como CPIs, para o governo.

Lula evita falar da CPI do Apagão Aéreo

Na reunião ministerial, Lula usou alguns minutos para falar de sua preocupação com a crise aérea e das providências que estão sendo tomadas, demonstrando indignação com o comportamento dos controladores de vôo. Mas o presidente e os ministros evitaram falar explicitamente da instalação ou não da CPI do Apagão Aéreo, proposta pela oposição no Congresso.

Embora não tenha utilizado o termo "porteira fechada", Lula afirmou ser "saudável" que, ao montar suas equipes, os ministros levem em conta indicações de outros partidos, o que foi considerado pelos próprios ministros presentes à reunião uma vitória do PT, que há tempos reivindica o benefício de poder nomear militantes em ministérios onde não tem a titularidade, como é o caso de Integração Nacional (nas mãos do PMDB), Saúde (PMDB), Transportes (PR) e Cidades (PP).

Disputa por cargos deve aumentar

Durante as negociações com os partidos para a formação do Ministério de seu segundo mandato, Lula chegou a acenar com a possibilidade de permitir aos aliados adotarem o sistema de "porteira fechada". O PT era contra. Com a observação de ontem feita por Lula, uma nova disputa terá início entre os partidos da base.

- É saudável que, na composição dos ministérios, leve-se em conta que é um governo de coalizão - sugeriu o presidente, segundo relato do ministro da Secretaria de Comunicação Social, Franklin Martins, que comentou a frase de Lula: - Cada ministro é livre para montar a equipe que quiser, mas esse espírito (de coalizão) deve prevalecer.

Na sua vez de falar, o ministro-chefe da Controladoria-Geral da União (CGU), Jorge Hage, voltou à questão dos cargos e pediu cuidado aos colegas nas indicações e no preenchimento do segundo escalão. Hage disse ainda que qualquer dúvida pode ser esclarecida pela CGU.

Lula também fez questão de repetir um velho discurso: o de que não existe política de ministro, mas de governo, que o que um fizer será responsabilidade de todos. E disse que não quer ver troca de farpas entre seus auxiliares por meio da imprensa.

- Existe política de governo. Boas ou más, as políticas são de governo - disse Lula, segundo relato de Franklin. E continuou: - Ministro não critica ministro publicamente.

Pedidos de agrados aos parlamentares

O novo articulador político do governo, o petebista Walfrido dos Mares Guia, pediu aos colegas que marquem visitas ao Congresso e permaneçam na liderança do governo nas Casas para atender aos parlamentares. Mares Guia também exortou os demais ministros a adotar as emendas dos deputados como forma de ajudar a "fazer o melhor para os ministérios".

O presidente deu oportunidade para que os líderes do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), e da Câmara, José Múcio (PTB-PE), falassem sobre a situação da base no Congresso. Os dois também apelaram aos ministros para que procurem, na medida do possível, receber ou pelo menos retornar ligações do parlamentares.

- Falamos muito sobre a necessidade de valorização dos parlamentares, da importância do retorno de uma ligação. Precisamos fazer com que os parlamentares dos partidos aliados se sintam parte do governo - contou Jucá.

Apesar de não ter citado nominalmente nenhum ministro, Lula pediu para que tomem cuidado quando derem declarações que envolvam outros países. Um recado claro ao ministro das Comunicações, Hélio Costa, que criou um incidente diplomático ao dizer que a TV pública que o governo pretende implantar não é para seguir o padrão venezuelano, que exibe programas voltados a enaltecer o presidente Hugo Chávez.

Dos 35 ministros, apenas Matilde Ribeiro, da Igualdade Racial, e Gilberto Gil, da Cultura, não compareceram à reunião. A ministra está no Senegal em viagem oficial, e Gil, de licença.

COLABORARAM: Adriana Vasconcelos e Bernardo de la Peña

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