Título: BID vai liberar mais de U$2 bilhões para produção de etanol no Brasil
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 03/04/2007, Economia, p. 23
Banco vai apoiar bolsas e quer atrair "acadêmicos globais" para o país.
WASHINGTON. O presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Luis Alberto Moreno, anunciou ontem um investimento inicial de pouco mais de US$2 bilhões - através do seu departamento do setor privado - para financiar o aumento da produção de etanol no Brasil.
Segundo ele, o banco já está processando empréstimos "para cinco transações com biocombustíveis ou projetos envolvendo componentes de biocombustíveis que terão um custo de quase US$2 bilhões". E participará ainda na estruturação do financiamento de três usinas de etanol bancando parte de seu custo total, estimado em US$570 milhões.
- Esses investimentos contribuirão para a meta brasileira de triplicar a produção anual de etanol até 2020 - disse Moreno.
O país deve receber ainda mais dinheiro para essa área a curto e médio prazo, uma vez que o BID também revelou ontem - sem especificar as cifras - que ajudará o governo a financiar a criação do Centro Brasileiro de Pesquisas de Biocombustíveis. Verbas adicionais bancariam projetos de desenvolvimento, também no Brasil, como o Instituto Global de Recursos Renováveis, que será "uma plataforma para a exportação do know-how brasileiro para outros países em desenvolvimento".
O BID também se prepara para apoiar a criação do Fundo de Capital Humano para os Biocombustíveis, que sustentaria bolsas de estudos para técnicos nacionais em universidades estrangeiras e atrairia "notáveis acadêmicos globais para trabalhar no Brasil".
Irmão de Bush critica EUA por taxa imposta ao Brasil
As novidades foram anunciadas durante a apresentação de um volumoso estudo sobre o mercado de biocombustíveis encomendado pela Comissão Interamericana do Etanol (CIE), da qual Moreno é um dos três vice-presidentes. Outro deles, o ex-governador da Flórida Jeb Bush, irmão do presidente George W. Bush - e seu principal consultor na área de etanol - estava presente e criticou o fato dos EUA cobrarem uma tarifa de 54 centavos de dólar por cada galão (3,8 litros) desse combustível importado do Brasil - para proteger os seus cultivadores de milho, matéria-prima para a produção do combustível no país.
- Por que cobrar essa taxa para o etanol brasileiro, colombiano ou haitiano, se não cobramos tarifa alguma para o petróleo? Para mim isso não faz nenhum sentido, mas... bem, eu não sou de Washington - disse ele, ironicamente, referindo-se ao fato de que os EUA também são produtores de petróleo e nem por isso o Congresso protege esse setor.
Bush também condenou os subsídios dados ao setor (equivalente a 51 centavos de dólar por galão de etanol produzido), dizendo que "subsídios e tarifas atrasam o desenvolvimento dos biocombustíveis ao proteger produtores ineficientes e atrasando também a inovação". E acrescentou que a hora é de mudar a política radicalmente:
- A nossa atual política de etanol é, em essência, uma política agrícola e não uma política de energia e, certamente, não é uma estratégia de energia. Precisamos mudá-la de agrícola para energética.
Americanos dependeriam menos da Venezuela
O ex-ministro da Agricultura do Brasil Roberto Rodrigues, que faz parte da trinca de co-presidentes da CIE, fez uma sugestão. Como a lei americana prevê a cobrança de tarifas até dezembro de 2008, ele sugeriu que em vez de ir para o bolso do produtor americano de milho o dinheiro arrecadado com isso fosse aplicado de forma mais condizente com a política estabelecida na parceria assinada entre Brasil e EUA no etanol:
- Por que não usar esse dinheiro para desenvolver pesquisas sobre biocombustíveis tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil? - perguntou.
Ao falar de seu entusiasmo pelo fomento à produção de combustíveis renováveis, o ex-governador Bush disse que isso contribuirá para reduzir a dependência dos EUA "à países politicamente instáveis" que produzem petróleo. Logo depois, em entrevista, ele se referiu especificamente à Venezuela:
- A produção de petróleo e as decisões sobre petróleo estão nas mãos de poucas pessoas, enquanto o do etanol teria milhares de produtores e não, por exemplo, apenas de um Hugo Chávez. Ele pode romper contratos, pode nacionalizar empresas, e usar a PDVSA (estatal) para avançar uma agenda hostil aos EUA a qualquer momento. Prefiro ser dependente de cooperativa de cana-de-açúcar do Peru do que de um ditador.
O estudo divulgado ontem ("Um projeto para a energia verde nas Américas") mostra que o Brasil terá de investir de US$40 bilhões a US$60 bilhões até 2020 para cumprir a meta de triplicar a sua produção de etanol.