Título: Lula tenta unir base contra CPI
Autor: Lima, Maria e Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 04/04/2007, O País, p. 3

Aliados alertam que demora para resolver crise aérea pode tornar investigação inevitável.

Numa ação conjunta do Planalto com líderes dos partidos da coalizão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenta evitar que a CPI do Apagão Aéreo se torne inevitável, com a contaminação do ambiente político pela crise no setor. Os aliados alertaram ontem o presidente, durante reunião do Conselho Político - que agrupa dirigentes e líderes dos 11 partidos da base governista -, que a demora numa solução para a crise no sistema aéreo levará o governo a perder o discurso de que a CPI não é necessária e que se trata apenas de ação política da oposição.

Lula pediu a união dos partidos aliados. Os líderes atenderam ao apelo e se solidarizaram com a decisão do presidente de recuar no acordo e endurecer com o comando dos controladores de vôo, mas disseram temer que a repercussão negativa na sociedade deixe a situação fora de controle em relação à CPI do Apagão Aéreo.

Diante da apreensão manifestada na reunião, inclusive pelo líder do governo na Câmara, José Múcio Monteiro (PE), Lula pediu a todos que expliquem de forma clara que ele não poderia ceder às chantagens dos militares em greve.

Bate-boca entre líder da oposição e governista

Na véspera do recuo de Lula sobre o acordo com os controladores de vôo, o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), reuniu os líderes para discutir a crise. Fez um relato do encontro que tivera na tarde de segunda-feira com o comandante da Aeronáutica, Juniti Saito, avisou que o embate com a oposição se acirraria e antecipou o pedido de apoio ao governo.

- Na reunião, o Chinaglia retratou a gravidade da crise e pediu apoio ao presidente. Na reunião do Conselho, o próprio presidente nos disse que ninguém sabe o que vai acontecer. Ele acha que a crise dos controladores de vôo não deveria ter caído no colo dele naquele momento - relatou o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN): - Sobre a CPI, ele disse que temos que esperar a decisão do STF.

Coube ao líder José Múcio Monteiro traçar um quadro realista das dificuldades que o governo deverá encontrar no Congresso:

- A base está unida, solidária com as decisões do governo e disposta a votar o PAC. Mas é fundamental que os negociadores expliquem com antecedência aos líderes cada passo que será dado no equacionamento dessa crise.

O líder do PR, Luciano Castro (RR), lembrou que o agravamento da crise poderia contaminar um momento positivo do governo no Congresso, quando tudo se encaminhava para a votação das medidas do PAC:

- Se demorar muito, o que passa para a sociedade e população em geral é que só a CPI pode resolver o problema do apagão aéreo. O que passa é a idéia de que não queremos a CPI para não resolver o problema. Isso é ruim para nós.

À noite, na sessão do plenário, em que se arrastava a discussão de uma única medida provisória, a oposição voltou a atacar.

- Que comandante é esse, que não comanda ninguém? Que lá dos EUA manda tomar uma atitude e, depois, muda a palavra? Tenho vergonha de ter um presidente tão sem caráter, tão sem palavra - atacou Lorenzoni, da tribuna.

O líder José Múcio reagiu e pediu respeito:

- Que não se use a palavra ríspida, a insinuação maldosa. Não podemos deixar de nos respeitar.

"A velocidade é que ficou reduzida", diz Chinaglia

No fim do dia, Chinaglia evitou externar grande preocupação:

- As posições dos que defendem a CPI já estão dadas. Mas não vejo qualquer líder defendendo a quebra da legalidade.

Na oposição, a avaliação é de que o recuo do presidente Lula no acordo com os controladores de vôo é um elemento a mais da crise.

- O governo e o presidente Lula fizeram um avanço para conter momentaneamente a crise, sem pensar nas conseqüências. Lula protagonizou um recuo humilhante e precisa explicar o que tem por trás disso - disse o líder do DEM, Onix Lorenzoni (RS).

Mais cedo, Chinaglia admitiu redução na velocidade das votações na Casa:

- O ritmo está mantido, a velocidade é que ficou reduzida porque houve disputa em torno da CPI, e o caos aéreo tem tomado tempo.

A oposição voltou ontem a fazer discursos contra o comportamento do presidente Lula no apagão aéreo. Em meio à crise, e apesar do ritmo intenso das reuniões para tentar controlar o setor aéreo, Lula arrumou tempo ontem para reunir-se com a bancada de senadores do PT.

COLABOROU Adriana Vasconcelos