Título: Envolvido no mensalão vira tesoureiro do PP
Autor: Lima, Maria
Fonte: O Globo, 04/04/2007, O País, p. 8

Janene, que protelou processo com licenças, é dirigente como Maluf, Severino, Pedro Henry e o cassado Pedro Corrêa.

BRASÍLIA. Descrito como inválido, profundamente enfermo e incapacitado para prestar explicações ao Conselho de Ética no processo por sua participação como um dos operadores do mensalão, o ex-deputado José Janene (PR) recebeu ontem, do diretório nacional do PP, a delegação, como tesoureiro, para gerir as contas do partido e administrar os R$8,2 milhões de fundo partidário que a legenda receberá este ano. Ele foi reconduzido ao cargo na executiva nacional do PP juntamente com os deputados Paulo Maluf (SP), Pedro Henry (MT), o deputado cassado Pedro Corrêa (PE) e o ex-presidente da Câmara Severino Cavalcanti (PE).

Em convenção nacional realizada ontem num auditório da Câmara, o deputado Nélio Dias(AL), que assumira a presidência com o afastamento de Pedro Corrêa, foi reeleito. O governador de Goiás, Alcides Rodrigues, foi eleito presidente de honra, no lugar de Maluf.

Ex-prefeito protesta contra eleição da executiva

Antes da votação que consagrou a nova executiva por aclamação, um ex-deputado estadual do Pará e ex-prefeito de Óbidos fez um protesto e, num discurso emocionado, constrangeu os cardeais do PP:

- Infelizmente, eu não tenho votos, sou só um caboclo das barrancas do Amazonas, mas quero fazer aqui um protesto veemente contra a inclusão de nomes que quase levaram o partido à bancarrota. Eu prezo muito esse partido e não concordo com isso. Sou contra a inclusão de nomes que não deveriam estar nesta executiva - disse Haroldo Tavares, perante um plenário perplexo e incomodado.

Ninguém o contestou ou lhe cassou a palavra. Passado o constrangimento, Severino Cavalcanti, que estava nos fundos e não foi chamado para participar da mesa, rebateu:

- É um direito dele protestar. Não estamos na ditadura, mas foi o protesto de um só - reagiu Severino, que renunciou ao mandato para não ser cassado após denúncias de cobrança de propina de um empresário para prorrogar a concessão de um restaurante na Câmara.

"Não somos a palmatória do mundo", diz Negromonte

José Janene, Pedro Corrêa e Pedro Henry foram acusados de envolvimento no escândalo do mensalão. Janene e Henry foram absolvidos. Corrêa, ao lado de Roberto Jefferson e José Dirceu, foram os únicos deputados cassados no caso. Após o término da convenção, o líder do PP na Câmara, Mário Negromonte (PP-BA), disse que eles foram reconduzidos porque o PP não permitirá mais erros:

- Não somos a palmatória do mundo não! A maioria se elegeu, a sociedade já puniu quem errou. Nos outros partidos tem mais gente que errou que o PP. O PP é um partido que fica com seus filiados na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, é um casamento político. Agora, errou, vamos deixar as portas e janelas abertas para que procurem outro caminho.